Qual é o sentido do presente no país do futuro?
Stephen Zweig, escritor austríaco e sua esposa Lotte Altmann se suicidaram em 22 de fevereiro de 1942 em Petrópolis, RJ, onde se refugiavam fugindo da II Guerra Mundial de cujos horrores fugiam. Não suportaram as notícias que chegavam sobre o desespero vivido pelos Judeus diante do Holocausto.
Sem querer entrar nos méritos de sua vida extraordinária com escritor, retenho-me ao seu livro um tanto paradoxal chamado “Brasil, um país do futuro – e sempre será”, querendo dizer que estamos sempre de olho no por vir, algo que poderia vir a acontecer, mas que não é real. Zweig queria dizer que o Brasil é surreal, porque não é o país do presente e não sendo do presente ele está sempre longe das nossas mãos.
A campanha da Rede Globo sobre “O Brasil que eu quero” retoma um pouco o paradoxo de Zweig sobre este país dos nossos sonhos, o país das promessas onde tudo está sempre num futuro que nunca chega, está sempre no amanhã, em uma seara por onde andam os políticos que adoram prometer para o amanhã, acenar-nos com possibilidades para o amanhã e quase nada está no aqui agora.
Houve uma grande confusão quando o Primeiro Ministro Chinês, Wen Jiabao, em sua visita ao Brasil, deixou 10 sugestões que segundo ele, poderiam resolver as dificuldades do Brasil, num provável encontro reservado ou quase secreto com a presidente Dilma e as suas dez sugestões foram as seguintes:
1 – PENA DE MORTE PARA CRIMES HEDIONDOS COMPROVADOS
As justificativas são várias, mas em primeiro lugar, não seria o governo o aplicador destas penas, mas são os próprios criminosos que fazem as suas escolhas, quando sabem que se fizerem tais coisas, serão punidos com tal rigor, da mesma forma que alguém pode ter uma arma em casa e não usa-la, a pena de morte existiria para não ser aplicada, talvez como o seguro que a gente paga torcendo para “não precisar utilizá-lo”.
Na prática, a pena de morte seria um suicídio. Aquele que comete um crime hediondo ou faz algo deplorável, sabendo que isto pode implicar em sua pena de morte, talvez levem em si a intenção de se submeter a ela, querendo se matar escolhendo um destino e, como dizem por aí, “tudo o que fazemos são escolhas”.
Se um indivíduo que comete crimes hediondos deve ou não ficar livre talvez por questões humanísticas, a sociedade estaria sendo humana demais para com ele, o deixando sobreviver “para que” ele ataque outras pessoas. Tais hipocrisias, são aplicações da “pena de morte” a pessoas inocentes usando tal criminoso como arma.
Ele poderia se transformar ou não, se tudo for de fato uma questão de escolha, se tratarmos os seres humanos como livres, tão livre que possam se julgar no direito de escolher e “eliminar” outros seres humanos, então é algo a ser avaliado, pois afinal, acreditamos ou não em escolhas e no livre arbítrio?
2 – PUNIÇÃO SEVERA PARA POLÍTICOS CORRUPTOS
Eles deveriam ser o exemplo, mas não conseguem. Deveriam servir o país ao invés de se servirem dele. Não deveriam ser políticos profissionais, mas, ao contrário, deveriam ser pessoas vocacionadas para o trabalho ao lado do povo. Existem aqueles que se perguntam por que a palavra dos políticos não vale, mas quanto a isto está tudo certo. Político para ser político, precisa ficar mesmo encima do muro, pois se falassem a verdade, teriam que assumir um lado e rejeitar o outro, mas assim agradariam alguns e frustrariam os outros, então esta, é a essência do político.
Aristóteles definia os políticos exatamente como eles são hoje, e “A República”, livro de Platão, dizia que a palavra “político” é um conceito que os define como seres falsos, como diplomatas que gostam de dizer o que as pessoas gostam de ouvir. Em outras palavras, o bom político é aquele que não desagrada ninguém, e isto somente é possível se ele ficar encima do muro, e se não fosse ambíguo e a sua palavra tivesse algum valor, então ele não seria um “político”.
3 – QUINTUPLICAR O INVESTIMENTO EM EDUCAÇÃO
Segundo Wen Jiabao, o Brasil deveria multiplicar por cinco os investimentos na educação, porque sem ela não há nação que evolua e nem é possível o desenvolvimento da tecnologia.
4 – REDUÇÃO DRÁSTICA DA CARGA TRIBUTÁRIA E REFORMA TRIBUTÁRIA IMEDIATA:
A carga tributária brasileira é a maior do mundo, sem retorno algum para um povo doente ou sem saúde, sem educação, sem estradas e sem segurança, e os impostos são totalmente mal utilizados.
5 – REDUÇÃO DE PELO MENOS 80% DOS SALÁRIOS DOS POLÍTICOS BRASILEIROS:
Os nossos políticos vivem num paraíso onde os impostos são os mais altos do mundo, então eles nadam em benefícios, recebem benefícios e mordomias que em nenhum outro lugar do mundo existe, trabalham pouco, são lentos, oportunistas parasitários e corruptos, e como a palavra deles não vale nada, eles perdem o vínculo como o povo e não estão interessados nas necessidades da população.
Seus votos são comprados, e, portanto, aprovam aquilo que interessa às elites, sempre de forma a tirarem seus benefícios. Eles estão para votar em benefício do povo, mas sendo seus votos leiloados ou comercializados, eles passam a ganhar também para votarem e se vendem para interesses estranhos aos do povo.
6 – DESBUROCRATIZAÇÃO IMEDIATA:
A burocracia é feita para encarecer, dificultar, complicar e desmotivar os empresários. Eles pagam fortunas para abrir e fecharem empresas, e passaram a ter medo de abrir novas empresas, porque além dos impostos extorsivos, das multas e da legislação trabalhista paternalista que beneficia sempre o empregado, as empresas ficam facilmente exauridas e anêmicas.
7 – RECUPERAÇÃO DO APAGÃO DE INVESTIMENTOS DOS ÚLTIMOS 50 ANOS
Com o dinheiro dos impostos sendo mal utilizado e desviado pela corrupção, os investimentos em todas as áreas, na saúde, na segurança e na educação principalmente, ficaram defasados e quase simplesmente não existem. O nosso país não beneficia o povo que paga seus impostos e quando o fez, foi de forma paternalista para garantir reeleições, as bolsas famílias etc.
8 – INVESTIR FORTEMENTE NA MUDANÇA DE CULTURA DO POVO
Porque não temos mais sequer uma identidade cultural, porque a nossa cultura é uma colcha de retalhos, porque o êxodo rural descaracterizou a cultura camponesa e nas periferias das cidades, perdemos as nossas raízes culturais.
9 – INVESTIR EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA IMEDIATAMENTE
Porque o Brasil não tem zelado pela ciência e a tecnologia, não tem mão de obra qualificada. Tudo o que temos desenvolvido vem de outros países e isto nos custa muito caro em pagamento de royalties de quase tudo. O Brasil investe em cursos técnicos e deixa de lado os níveis mais avançados, e assim a nossa mão de obra tende a ser a executora de projetos importados de outros países que em geral usufrui da nossa mão de obra barata. Não somos estimulados como seres pensantes por não abrirmos as portas da ciência e da tecnologia, e enquanto isto, as universidades são sucateadas e os nossos cérebros foram levados para outros países.
10 – MENORIDADE PENAL E TRABALHISTA A PARTIR DE 16 ANOS
O quanto mais cedo as crianças aprenderem a trabalhar, melhor para elas e mais responsáveis ficam. O nosso país está envelhecendo. Aos 50 anos as pessoas sendo consideradas velhas para o mercado de trabalho, e então, não aproveitamos os nossos jovens que entram muito tarde para o mercado e abandonamos cedo demais os mais velhos, fazendo com que a nossa força de trabalho seja usada por muito pouco tempo, descartadas no auge de sua capacidade produtiva para talvez se aposentarem, o que é também estranho num país cuja Previdência se declara falida e cuja capacidade de assistir o seu povo também é mínima.
Conclusão
Diante de tudo isto, muita gente concorda com as observações do Primeiro Ministro da China, Wen Jiabao, quando num golpe de vista durante a sua rápida estada no Brasil, percebeu coisas que não conseguimos ver, ou para as quais fechamos os olhos por acomodação ou por conta do nosso desconhecimento.
Precisamos aprender a não nos sentirmos orgulhos quando o Brasil nos é apresentado como “O país do futuro”, o quando a Rede Globo nos pergunta “sobre o que desejamos do país do futuro”, porque não queremos “o país do futuro”, porque desejamos o nosso país do aqui-agora, do presente, queremos um país que não nos iludam com promessas para o amanhã, porque o amanhã é incerto, e, como nos alertou Stephen Zweig, o que precisamos é de respeito agora e de reconhecimento para nosso país atual.