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O sentido da família

Blogoterapia

É um blog sobre psicoterapia, filosofia, arte e o sentido da vida para passar um conteúdo dinâmico e diário, para troca de conteúdos que possa ser terapêutico.

O sentido da família

Estou acompanhando um paciente que vira e mexe menciona que não precisa trabalhar muito, que ele conta com parte da fortuna que a sua família vai lhe deixar. Desconhece que todas as vezes que contamos com heranças dos nossos pais, cometemos um desatino de desejar e contar com a morte deles, que as coisas materiais que os nossos pais conseguiram, PERTENCE exclusivamente a ELES e é um bem para ser usado em suas vidas.

Muitas vezes, um acidente, uma doença dos últimos das últimas horas pode consumir tudo aquilo que temos. Quando eles se forem se sobrar alguma coisa, o receberemos talvez como um último presente, mas os nossos pais não têm obrigação de deixar herança alguma para os seus filhos, porque eles, já nos deixaram o bastante.

A nossa maior herança somos nós.

Esta é a fortuna que nos importa, e um filho que não reconheça isto, é uma criança insaciável que tendem a não fluir na vida, são pessoas que não percebem o sentido da vida em família. Você tem a sua vida e isto é o seu bem maior. Trabalhe muito! Consiga o que você precisa e se não conseguir o bastante, aprenda a viver com as suas dificuldades, mesmo porque também elas são heranças que estão aí para nos ensinar! Todo o resto é dádiva, todo o resto é benção, todo o resto é misericórdia e faz parte dos presentes que a vida nos dá, se é que – de fato – os merecemos.

E se você não conseguirmos o suficiente, avaliemos se não estamos dando passos maior do que as nossas pernas. Se você conseguir ter o que você deseja de maneira justa, aleluia; tenha-o, mas se não conseguir; sonhe! Sonhar pode ser um estimulo para que você chegue lá, mas uma coisa é certa e precisa ser entendida: você precisa gastar menos do que ganha!

Se você gastar mais do que você ganha, alguém será prejudicado ou terá que pagar as suas contas por você.

Em uma rápida reflexão sobre o sentido da herança e das nossas famílias, recentemente ouvi uma fala do Papa Francisco, onde ficava claro que “a nossa herança mais valiosa é a saúde e a alegria”, são as coisas que fluem na paz de uma vida saudável, são as nossas memórias, a saudade deixada pelos que se foram, as lembranças que ficaram e que são mais importantes do que o ouro que restou dos nossos mortos.

Em italiano, a palavra “joia” significa alegria, e a alegria são das nossas riquezas maiores, as lembranças dos nossos momentos de paz e das coisas vividas com as nossas famílias, bem ao estilo do que escrevi num artigo sobre o exemplo de vida de pessoas como o ator Keanu Reeves.

Uma das nossas maiores virtudes é a consciência e a preocupação em saber se os nossos pais vivem ou viveram confortavelmente. Será que eles tiveram tudo o que precisavam? Será que a humilde poupança deles não aliviava o sofrimento causado por suas preocupações em relação ao amanhã?

É claro que o melhor mesmo é que eles tenham vivido seguros e em paz, porque eu posso conseguir eu mesmo as minhas coisas. Posso vir a ser uma criatura integral e crescer andando com as próprias pernas, mas a minha vida, o cuidado que eles tiveram comigo para que eu vivesse e chegasse até aqui; Ah! Isto não tem preço.

E se estão ainda vivos, que maravilha! O que faço para o bem e para a alegria deles? Como sou eu com os meus pais? Contribuo de alguma forma com “joia” da família, ou seja, para a “alegria” deles? Ou sou um parasita mal-intencionados e mal-agradecidos, um inútil que deseja ter para si o dinheiro que sobrou dos remédios deles e que tendo a economizar para me sobrar mais do dinheiro que eles guardaram para o seu amanhã?

Ninguém precisa responder nada a não ser para si mesmos.

A herança não é algo superficial que venha da casca e dos bens materiais. A verdadeira herança é a harmonia, a segurança, a vida, as memórias, as boas recordações de uma vida real, algo que nos faça sentir a beleza das vivencias juntos, do apoio que damos uns aos outros ao longo da vida quando somos simplesmente justos. Estas vivencias fizeram o tempero da vida e fez de você um ser útil para si mesmo, para eles e para a sociedade, pois afinal, é para isto que estamos aqui.

Estamos no mundo para “para os outros” e vemos exemplos disto o tempo todo e por todos os lados.

O riacho não bebe a sua própria água, porque a sua água é para os outros. Os raios do sol não iluminam o seu imenso caminho celestial, porque o sol existe para iluminar o mundo. As árvores não comem os seus próprios frutos, porque elas parecem ser a imensa mesa que a vida serve para o mundo, para os pássaros e para todos os seres.

O aroma das flores vai criando um rastro de delícias para os que estão às margens do caminho, mas também a nossa felicidade fica maior, multiplica-se e ganha mais sentido quando os outros ficam felizes por nossa causa. A nossa passagem por aqui é para fazer a felicidade dos outros. A nossa própria felicidade decorre disto, como quando estamos numa relação íntima e o gozo do outro que faz com que nos retribua e ficamos ainda mais felizes… quando o nosso riso faz com que os outros riam…

Mas retornando ao meu querido amigo um tanto narcísico “é vero”, um pouco egoísta e reclamão, esse bebê faminto e chorão que suga ao máximo o seio da sua família e ainda conta com a herança que eles possam vir lhe deixar, acreditem, é destes que exigem presentes, carros e viagens, porque acha que o que os seus pais têm lhe pertence, que a vida é curta demais e que tudo o que os seus pais têm precisa ser gasto e “aproveitado”.

Enquanto isto, provavelmente eles achem que tudo isto é um abuso, um desperdício e que talvez possa vir a ser reclamado pelo amanhã.

Isto ocorre, sem a mínima preocupação se eles precisarão do que pouparam num momento difícil da vida, num acidente ou numa doença imprevisível que possam vir a ter. Ninguém sabe se precisará de um mês de UTI, de um procedimento que o plano de saúde não cubra ou de um tratamento que possam necessitar num hospital mais seguro, etc.

Mas os nossos reclamões anônimos pensam apenas em si mesmos, e, de repente, passam a exigir viagens e mordomias, querem participar da “copa do mundo”, do “Rock in Rio” ou das “olimpíadas” em outro país como se o dinheiro fosse deles. Se os pais reagem, eles sacam as suas palavras e dizem; “Avarentos”! Eles não compreendem que uma certa poupança é um remédio pacificador que os tranquilizam diante das inseguranças da vida.

Para concluir, o sentido da família e da herança estão muito além daquilo que os interesseiros de plantão imaginam e do que os nossos pais possam nos oferecer em fortunas materiais.

Quem espera por heranças, normalmente são pessoas muito vazias, ocas, pois a verdadeira herança é a vida que nos foi dada, e agora precisamos saber o que fazer com ela, porque esta é a joia mais preciosa que os nossos pais conseguiram nos oferecer, a grande herança que precisa ser reverenciada e curtida! A grande herança da vida!

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José Carlos Vitor Gomes Psic.

José Carlos Vitor Gomes Psic.

Atua como psicoterapeuta, psicoterapeuta familiar e de casal desde 1979. Fez cursos de especialização nos Estados Unidos, Argentina, Colômbia, Itália e no Brasil. Foi um dos pioneiros na divulgação da psicoterapia familiar no Brasil. Foi organizador de 53 eventos com celebridades nesta área com a participação de mais de vinte mil profissionais brasileiros.

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