Blogoterapia

É um blog sobre psicoterapia, filosofia, arte e o sentido da vida para passar um conteúdo dinâmico e diário, para troca de conteúdos que possa ser terapêutico.

O amor nasce com a serenidade do sexo

Muitos se perguntam sobre o amor e geralmente há uma confusão entre sexo e amor, que na prática são duas coisas diferentes. Uma coisa tem nada a ver com a outra, embora fosse desejável que as pessoas se amassem e tivessem a melhor sexualidade possível e para sempre, mas está comprovado que o casamento e as relações amorosas, não são os lugares onde o melhor sexo acontece.

Ao contrário do pensamos, isto não é lá tão ruim, e nem deve ser usado para justificar a busca de um sexo melhor fora da relação, porque se a buscarmos e ela for melhor, provavelmente passaremos a sonhar a termos uma vida com esta nova pessoa onde a sexualidade parece ser tão excelente, mas ela se tornar a “bola da vez”, como na relação anterior, a sexualidade das relações definitivas tende a não ser das melhores e assim por diante…

Não se deve escolher uma pessoa “por um motivo”, o bom relacionamento são aqueles onde as pessoas se aproximam por razão nenhuma, onde ambos são adultos e aprenderam a viver sozinhos, a se divertirem sozinhos e a viver sem carências, e quando aprendemos a viver sozinhos é sinal de que nos bastamos e aprendemos antes de mais nada a amar nós mesmos.

Quando gostamos de nós mesmos, somos felizes sozinhos e isto é sinal de que não precisamos de ninguém para “nos fazer” felizes, mesmo porque ninguém conseguiria fazer ninguém feliz. Se precisássemos de alguém para nos fazer felizes, esta pessoa seria “culpada” pela nossa infelicidade, responsável pelos nossos destinos e a ela seriam terceirizadas as nossas dores e a nossa solidão.

Dizem que a porta se abre quando estamos prontos para entrarmos, e então alguém se aproxima e tudo fica melhor porque estamos prontos para recebermos um hospede que vai habitar os nossos corações.  Você está em paz porque sabe que este alguém que bateu à sua porta é uma esperada visita, um companheiro, e não é alguém para você se perder nos prazeres sexuais.

Eu sempre informo os meus pacientes que “o que acaba com a intimidade, é o excesso de intimidade”. O seu parceiro tem prazo de validade e se você “usar” muito, ele se desgasta e de tanto ser usado ele se acaba. Não fale tudo o que você pensa. Com o tempo a intimidade cresce e a falta de educação aparece. Não há nada mais desumano do que ser mal-educado com a pessoa que ama você, que de alguma forma está cativo e preso a você, e às vezes quer ir embora e não consegue por causa do vínculo.

Até que um dia, depois de muito sofrer, nos aproximamos e dizemos “eu não consigo mais…” “sinto-me as minhas fraquezas diante de você e embora te ame, eu preciso ir”.

Há muito tempo quando ele ou ela chegou tudo era belo e o seu coração entrou em festa. Ambos tinham a impressão de que tudo estava resolvido e de que a paz tinha por fim se instalado no seu coração. Parecíamos gente grande, adultos, pessoas como a vida resolvida, estávamos num relacionamento e isto era bom.

Como pessoa amada e que sabia amar, você se movia seguro de si como um mestre de si mesmo e não precisava mais ser um mendigo, uma destas pessoas carentes de amor que saem pela vida como pedintes e quanto mais pedem, menos tem e mais fracos se tornam. Mas agora, tomados pelo amor, você parecia adulto e se movia pela vida com a segurança de um rei e a pessoa amada também.

Quando a pessoa é adulta, ela vive a sua solidão com firmeza e atrai e será atraída para outras pessoas que vivem lindamente a sua solidão, e então eles se atraem exatamente porque um não precisam do outro. Porque agora trata-se de uma escolha e a felicidade dos dois é tão contagiante que se multiplica. Eles se comunicam bem, entre eles não há ciúmes porque são livres e dão uns para os outros, motivos para voltar e razões para ficarem.

Se eles se amam, existe alguma atração, mas a sexualidade dos que se amam é rara, porque eles são pessoas raras, e estão juntos por razões maiores e por isto eles não ficam chateados, frustrados ou agressivos uns com os outros só porque a sexualidade não é frequente entre eles. Não têm necessidade de buscar o sexo que falta entre eles, porque o que falta, falta “entre eles” e nada exterior poderia substituir esta falta.

Existem momentos na vida em que os parceiros não terão vontade de ter relações sexuais uns com os outros, e isto pode acontecer com todos os casais. Às vezes, quando uma pessoa não quer ter relações sexuais, a outra se apega a isso mais do que nunca e começa a sentir que, se não houver sexo o relacionamento terminará. Bobagem. Quanto menos sexo existe, mais eles se conectam, mais desejo terão e mais gostariam de “ficar” juntos.

O quanto mais se reclama, menos o outro terá vontade e com mais medo ficará. O sexo reivindicado não tem valor. A sexualidade precisa vir por si mesma com espontaneidade e sem exigências. Normalmente o relacionamento se acaba não porque o sexo acabou, mas porque um deles pediu muito, insistiu demais, reclamou tanto que importunou o outro e acabou com a sexualidade, que precisaria ter sido evocada, reacendida, porém nunca exigida.

Um deles pode não estar com vontade de fazer amor, mas pode se esforçar por fazê-lo sem prazer algum, somente para agradar o outro e sentirá mal. A má vontade vai aparecer e o outro também ficará mal por ter a impressão de que está fazendo alguém infeliz e pode até se sentir culpado.

Aquele que se sente privado, pode ter vontade de buscar fora o que ele não tem em casa, mas isto é profundamente perigoso. Sabemos com os conhecimentos das constelações familiares de Bert Hellinger que, quando um parceiro busca sexo fora da relação, ele obriga o parceiro traído a fazer o mesmo, também buscando o que não tem em casa para equilibrar a relação entre ambos, em outras palavras, aquele que trai, obriga o outro a traí-lo também.

Mas voltando ao ponto inicial, uma coisa precisa ficar clara: o sexo não tem nada tem a ver com o amor. O sexo é apenas um start, a faísca inicial e o começo de algo maior. O amor é maior e melhor do que o sexo. É muito mais elevado e poderoso do que o sexo, e em geral, o amor pode surgir e crescer sem nenhuma sexualidade. Eu conheço pessoas que se amaram sem sexo e me ocorre o exemplo de um casal de amigos, onde ela teve um câncer que a mutilou completamente e eles viveram trinta e oito anos juntos sem qualquer relacionamento sexual, e como quase todos os velhinhos que se amam, ela faleceu e ele se foi dois meses depois.

Normalmente os casais ficam com medo de declarar seu amor, porque tal declaração poderia ser confundida com uma “permissão para que o outro reclame novamente por sexo”, como se ao dizer que ama, isto significasse “eu estou pronta para fazer sexo”. As nossas cabeças têm sido preparadas para entender que o amor é praticamente sinônimo de sexo, por isso, ele fica com medo de tocá-la e de abraçá-la e disto ser compreendido como pedido por sexo, então ele deixa de ser afetivo e ela também.

A manifestação de carinho passa a ser algo a ser evitado (como se fossem preliminares) e então, eles não terão mais nem carinho e nem sexo. Eles vão se afastando e perdem o contato pois isto é compreendido como falta de amor e passam a poupar o outro das expectativas sexuais que o contato pode causar no outro.

O casal que se junta somente por sexo não tem futuro.

Assim, eu compreendo que o amor começa a florescer quando o sexo intenso, febril e ardente entre eles vai aos poucos diminuindo. Sabem por que? Porque o amor é algo sereno, delicado e superior e quando existe amor, não há necessariamente buscas de sexo fora da relação mesmo porque o amor os pacifica e nutre.

Resumidamente, a exigência de sexo acaba com o próprio sexo, acaba com o amor, separa casais e coloca fim em relacionamentos que poderiam ser extraordinários. A mente feminina é mais paradoxal e se apega ainda mais ao sexo quando o homem se mostra desinteressado. Quando o homem está interessado, a mulher fica completamente desinteressada e essa dialética está sob o controle da mulher, coisas que percebo em atendimentos…

Quando o homem está buscando a mulher, ela joga o jogo do desinteresse, ou seja, dá a entender que não está interessada.

Se o homem não se mostra interessado, ela fica com medo de se aproximar e os papéis se invertem. Ela começa a fazer o jogo de quem precisa de sexo, sente falta e não consegue viver sem ele, o que é apenas um jogo, porque na realidade ninguém jamais morreu ou se enlouqueceu por falta de sexo, mas ao contrário, a falta de amor pode facilmente nos adoecer.

Quando amamos, as nossas energias se transformam, ficamos mais saudáveis e a vida se torna plena de sentido. Se você está com uma pessoa sem ter amor por ela você a está prejudicando. O amor é uma oportunidade para nos transformar e atingirmos uma realidade superior, e o ciúmes e a reivindicação de sexo, agride a relação e traz o contrário daquilo que se busca e sonha.

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José Carlos Vitor Gomes Psic.

José Carlos Vitor Gomes Psic.

Atua como psicoterapeuta, psicoterapeuta familiar e de casal desde 1979. Fez cursos de especialização nos Estados Unidos, Argentina, Colômbia, Itália e no Brasil. Foi um dos pioneiros na divulgação da psicoterapia familiar no Brasil. Foi organizador de 53 eventos com celebridades nesta área com a participação de mais de vinte mil profissionais brasileiros.

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