Não existe mãe solteira
A cada dia me surpreendo mais com o Papa Francisco que é um homem que parece estar à frente do seu tempo. Uma das suas últimas colocações foi a de que “Não existe mãe solteira” e que mãe solteira não é um estado civil. Eu francamente não tinha pensado nisto antes, mas novamente ele toca um dos tabus da própria Igreja e faz isto como ninguém.
As mães solteiras não eram apenas estigmatizadas, mas eram maltratadas, eu conheço uma que foi estuprada no meado dos anos cinquenta, e grávida, que teve que fugir da cidade de origem em Minas Gerais e só voltou para lá muitos anos depois, quando a criança já estava com mais de cinco anos. Esta criança que tinha que ficar, às vezes, fechada no quarto e a cuja mãe tinha que mentir para escapar da hipocrisia, do julgamento dos parentes e da sua vizinhança.
Na semana que esta mulher, antiga “mãe solteira” faleceu estava com 85 anos de idade e ainda trazia as marcas deste julgamento, mas o Papa Francisco com simplicidade, moderno e corajoso vem tocar sensivelmente sobre este tema. Sem combinar nada com ninguém e em público, ele às vezes solta frases dignas de um intelectual de mente aguçada e de um humanismo de primeira grandeza, disse um jornalista.
Na verdade ele vai aos poucos remexendo os baús da ignorância e da velha igreja senil, de um “clero” “esclerosado” que de lúcido tem muita pouca coisa, e quando um padre é um pouco mais corajoso, ele é desqualificado e silenciado para preservar os tabus da Igreja, que felizmente pouco a pouco, estão ficando para traz.
Eu o tenho acompanhado com entusiasmo e vejo que o que tem se sobressaído neste pontificado, é a ênfase os valores humanos, mais que os divinos e, principalmente, mais do que se enfatiza o maior deus da face da terra que é o dinheiro e o poder econômico.
Quando notamos que os governos e os grandes impérios evangélicos atuam em nome do dinheiro e ainda vendem indulgencia e não das pessoas, que o humano se negligencia e que ao povo são “impostos” cada vez mais sacrifícios, extorquem-se os direitos e o pouco que se tem, o Papa Francisco vem a público e afirma que “o dinheiro tem que servir” ao homem e que o homem não deve ser escravo do dinheiro, que ele tem que estar serviço do povo e não dos governos.
Ao perceber que as pessoas de alguma posse tratam com mais zelo dos animais de estimação do que os seus empregados, ele não suportou e disse que “Algumas pessoas cuidam melhor de seus animais do que do seu próximo”, de empregados e da família.
Finalmente olhou para o horizonte, empunhou o microfone e disse com firmeza que “Mãe é mãe e acabou. De fato não existe mãe solteira”. Existem mulheres abandonadas com os seus filhos, mulheres excluídas, esquecidas no mundo por alguém inconsequente que a abandonou à própria sorte. Da mesma forma, eu acrescentaria neste sentido que “não existe filho sem pai”, porque eles são de fato abandonados e são filhos de alguém cujo rosto não se conhece.
Quando alguém chamou a atenção de uma mulher, por ela ser mãe solteira, Francisco não se conteve, e, com sabedoria explicou: “Mãe solteira não é estado civil” e por isso, não existe mãe solteira.
Imediatamente temos vontade de dizer: “palmas para o Pontífice” porque ele banca os seus ensinamentos e não é esclerótico. A sua mensagem vai para os países mais ricos, de onde vem um terrorismo muito mais denso que é o imperialismo econômico, onde não apenas as torres são derrubadas, mas onde os valores e os direitos humanos não consegue crescer porque lhe falta um solo humano e justo para as suas raízes.
Os direitos humanos são violados não só pelo terrorismo, pela repressão, pelos assassinados e a violência, pelos descaso com a saúde, etc., mas também pela extrema pobreza abandonada pelas estruturas econômicas injustas de onde se originam as desigualdades e os seus males.
Quando o homem faz guerra em nome de deuses e de religiões, quando brigam por causa de crenças e matam por que acreditam em outros valores ou em uma forma específica de louvor; de novo o Papa vem com a mensagem de que Deus não pertence a nenhum povo, a nenhuma religião e a nenhuma verdade construída. Ele também é um entusiasta que irradia confiança e anima para que não desistamos da luta pelo que acreditamos, da nossa fé e não abramos mão da busca de um sentido para a maternidade e do “para quê” estarmos aí, e da compreensão de um sentido maior para as nossas vidas!
Sim. Não existem mães solteiras e nem filhos órfãos, o que existe são seres que por falta de amor e de sentido por alguma razão se abandonam.