Não existe injustiça!
Eu estava acabando de preparar o meu livro sobre “a história do Diabo”, sobre a existência ou não do mal, sobre a questão do céu e o inferno eu me deparei com verdades que me foram um tanto reveladoras que desejei compartilhar com você.
Eu não poderia concluir e de fato fechar este momento da minha vida sem compartilhar algumas das afirmações de Allan Kardec em toda a sua obra, mas especialmente as do livro “O céu e o inferno”, nos capítulos de sete a dez, onde melhor do que em Dante, John Milton, Daniel Defoé, William Blake e Paul Carus achei o melhor estudo possível sobre o “Diabo”.
Para Allan Kardec o Diabo não existe. O que chamamos de “Diabo” são os espíritos atrasados. O “Diabo” é uma criação indireta de Deus, que o inventou como fez com o homem e todos os demais seres, ele que fora um espírito como os nossos, que tinha livre arbítrio, mas escolheu seguir o caminho do mau.
Qualquer um de nós podemos ser “Diabos”, aliás, o psicólogo Bert Hellinger chegou à conclusão de que neste mundo não existem anjos, e que neste planeta de dor expiações, praticamente só existem diabos e que mesmo os anjos, andam por aí com um diabinho oculto em sua mochila.
Quando se faz o mal, o arrependimento deveria ser o primeiro passo para a regeneração e abriria o caminho para a reabilitação. Mas, um pouco mais generoso, Kardec afirma que o inferno e o “Diabo” estão em todos os lugares onde quer que existam as maldades, o desamor e as almas sofredoras.
Não existe espírito que não tenha condição de se recuperar e evoluir. Ninguém poderia escapar ao progresso, nem o próprio “Diabo” se ele existisse, e isto se encontra em “O código penal para a vida futura”, em “o Céu e o Inferno”.
Deus jamais abandonaria um espírito, ou um filho, especialmente os que mais precisam, devido ao seu atraso e isto aparece também no “Sermão da montanha” onde se diz; “Bem-aventurado os aflitos, porque serão consolados”, mas isto não significa que Deus vá mover uma palha para que Ele se regenere, porque tudo precisa acontecer por decisão do próprio espírito.
Deus não faz milagres, não cura e não ressuscita ninguém, a sua bondade está na justiça, onde todos são criados com a mesmas condições para crescerem e evoluírem e Ele deixa as portas sempre abertas para que todos possam voltar ao bem quando se cansarem de fazer o mal que pensam fazer contra os outros, mas que volta contra si mesmos.
O espírito sofre as consequências das suas imperfeiçoes e tudo o que é feito em uma existência, é cobrada em outra, e as nossas penas são ao mesmo tempo um severo castigo e um maravilhoso remédio para a cura das chagas do mal e das nossas almas.
Deus bem poderia nos ter criado seres perfeitos, e se não o fez, é porque a sua sabedoria percebeu que a “evolução e o progresso” são essenciais. Portanto, Ele não é “criacionista” como defende a Igreja católica, mas é “evolucionista”, e neste sentido, o bem e o mal, são os lados opostos da mesma coisa, e o mal está no começo da toda a evolução.
Para Deus, ninguém tem privilégios e nem é favorecido em nada. Sua justiça faz com que a nossa igualdade seja absoluta. Não existem injustiças. Tudo o que acontece é sempre para o bem e está à serviço dos nossos resgates. Todos precisam trabalhar para o seu progresso, e o bem e o mal, são caminhos que podem ser escolhidos pela nossa vontade e pelo livre arbítrio.
Neste mundo não existem vítimas.
Todas as coisas são justas e certas, e compõem o que melhor que poderia ter acontecido para cada um de nós. Não existem acidentes e nem “balas perdidas”. Por outro lado, não existe sorte, não existem afortunados e muitos menos aqueles que ganham nas loterias da vida, conseguem um bom emprego e foram beneficiados por Deus.
Todos os seres são criados simples e ignorantes, sem conhecimento do bem e do mal, mas são aptos para adquirirem pelo trabalho tudo o que lhes faltam. Deus não tem preferência por ninguém. Não ampara especialmente este ou aquele, mas dá condições para que todos atinjam plenamente o que buscam.
Assim, Deus não criou o mal, a dor e o sofrimento.
Todas as suas leis conduzem para o bem, e foi o próprio homem que criou o mal, ao transgredir as leis de Deus, conforme está escrito no Capítulo oito de “O Céu e o inferno”. Da mesma forma, Deus não fez os anjos como seres prontos e superiores. Eles são como todos os demais espíritos normais que evoluíram e conquistaram a sua condição angélica com seu próprio esforço e trabalho.
Deus não precisa criar e nem eleger seres privilegiados ou isentos de obrigações. O objetivo não é este, pois todos precisam chegar lá e o farão com o tempo com o sal do rosto e o sagrado suor. Somos todos iguais, e conquistaremos as nossas posições com a luta e com os nossos próprios recursos.
Na verdade, como diz Kardec no capítulo nove de “O céu e o inferno” sobre “os demônios”, a humanidade tem uma necessidade instintiva de acreditar em um poder superior, no bem ou no mal.
Por outro lado, em sua tese de doutorado de 1946, o Dr. Viktor Frankl, afirma que nós, os seres humanos somos todos portadores não apenas de uma crença, mas de uma presença real e oculta; a incrível “presença ignorada de Deus” que se tornou um dos livros mais importantes do século.
A presença ignorada de Deus, dentro de mim e dentro de você, eis a grande maravilha!
Esta “Presença silenciosa, oculta esquecida” que existe em nós, vai sendo revelada com tempo, na medida em que optamos pelo bem e praticamos o amor. Na verdade, o outro nome de Deus é “Amor”, da mesma forma que o outro nome do “Inimigo”, é o “Ódio”, a indiferença, o vazio e as degradações morais.
Há uma luta incessante entre o bem e o mal, o mal que muitas vezes prevalece sobre o bem e é assim que o mal nos possui quando não escolhemos o caminho do amor e da fraternidade, quando não respeitamos o próximo como a nós mesmos. Quando não vemos Deus na criação, em todas as coisas, em todos nós, quando o atacamos nos outros e nas coisas, e esta presença quase sempre ignorada, silenciosa, humilde e sutil é este Deus que perseguimos de longe, buscando fora o que ficou esquecido dentro de nós, como nas jazidas perdidas e nos diamantes que o homem miserável desconhece que tem, e não a usa porque sequer sabe de sua existência.
Precisaríamos compreender ainda, que o mal pode nascer do seu oposto e fluir do bem, quando levamos em conta as mudanças que acontecem ao longo das nossas tantas existências. E novamente em “O céu e o inferno”, Cap. 9, Item 4, vemos que a doutrina sobre a existência do demônio tem sua origem nas antigas crenças dualistas sobre a existência do bem e do mal.
Ao longo da história do “Diabo”, em todos os seus capítulos, vemos a Igreja considerando o “satanás” um ser “real”, uma entidade intrusa e não uma simples representação.
Agora concluímos que o Diabo é um “espírito maligno”, mas não é uma “personalidade intrusa” como nas histórias de Hollywood. Ele é aquilo em que nos tornamos quando optamos pelo mal, quando somos degradados, quando cometemos os nossos crimes fazendo escolhas baseadas numa vida conflituosa e equivocada.
Na metáfora da queda dos anjos no livro “Paradise Lost”, “O paraíso perdido” de John Milton, o “anjo caído” é o próprio homem, este ser rebelado contra o bem, contra si mesmo, revoltado “contra Deus” e que também não precisa ser exatamente uma entidade “real”. Muitos não conseguem acreditar na transcendência do espírito, e nem que Deus e o bem são personificações da lei do amor e da graça de Deus no homem, encarnada como expressão do bem e da caridade.
O homem pode ser ateu e ser santo quando opta por uma vida ética e pelo bem, porém muitos caem numa vida errante e se perdem pelo caminho das mais estranhas formas e seguem outros destinos. Se rebelam contra Deus usando o seu livre arbítrio, as suas piores qualidades e impulsos para a prática do mal, se recusando a incorporarem o “Amor” que é o outro nome de Deus.
Jesus foi o Homem-Deus que optou pela vivência da justiça e do amor-vivo, e este homem foi e é o retrato mais fiel daquilo que Deus queria ter criado em cada um de nós. No entanto, Moisés assim como a Igreja, escreveram uma história infantil afirmando que “Deus teria se arrependido da criação do homem, e tocado no fundo do seu coração teria exclamado:
“Exterminarei o homem da face da Terra, exterminarei tudo, desde o homem até os animais, desde os que rastejam pelo chão, até os pássaros que voam no céu, porque me arrependo de tê-los criado”! Gênese 6:6-7.
Isto pode ser uma grande bobagem que precisaria ser revista com todo cuidado, porque um Deus que se arrependesse do que Ele mesmo criou, seria um Deus falho, revoltado, hesitante e fraco, que não seria perfeito e, portanto, não seria Deus.
Na verdade, Deus jamais se arrependeria da sua criação e sabe que ela nasceu perfeita “sendo imperfeita” e estava destinada à evolução, mas estas foram algumas das “verdades sagradas” de uma Igreja indulgente que construía deuses equivocados, rancorosos, revoltados, e, portanto, inexistentes.
Isto aconteceu, segundo Allan Kardec, porque a Igreja cometeu o erro de não levar em conta a tendência natural da humanidade para a evolução e para o progresso que é o logos, a razão que justifica a reencarnação, coisas que ficaram muito mais claras com o desenvolvimento da Ciência.
A Igreja do mal perdeu muito tempo querendo matar as bruxas, geralmente pessoas iluminadas que arderam nas fogueiras do Santo Ofício, sacrificadas pela inquisição, em exageros como aconteceu no Holocausto, nas Cruzadas e que ainda persistem nas práticas sinistras das religiões do terror. Mas parece que Deus queria exatamente o contrário de tudo isto, e nas palavras do sábio profeta do Antigo Testamento, “Deus não queria a morte do pecador, mas a sua salvação”, Ezequiel 18:23-32.
Mas Deus que é justo e perfeito, sequer admite as penas eternas como a prisão perpétua e a pena de morte, porque elas não consideram a possibilidade do arrependimento. Quando a pena é eterna, o arrependimento é inútil, e Deus conta realmente com a possibilidade da reparação e da reabilitação de cada um dos seus filhos e este foi o projeto de Cristo.
Todos podem se arrepender, embora tenham que expiar e pagar as suas contas, podendo decidir por se curar e optar pelo bem, como aconteceu, por exemplo, com o Apóstolo Paulo e tantos outros perseguidores regenerados.
O remorso vem imediatamente antes do arrependimento.
Ao se arrepender, com a culpa honesta e sincera do pecador, fica mais fácil a sua humilde opção pelo perdão, embora, mesmo perdoada, a dívida precisa ser reparada e com a expiação, aquele que errou pode ser reabilitado, mesmo que ele seja um pobre Diabo e seus erros sejam horríveis.
Muitas vezes a reparação acontece quando o credor já partiu de sua vida terrena, como se demonstram nas constelações familiares, e isto não faz a menor diferença, pois se trata de um acontecimento sistêmico, um movimento que ocorre no plano espiritual e não precisamos necessariamente ser entre pessoas vivas.
Concluindo, nem os “anjos” e nem os “demônios” são seres distintos ou especiais. Eles são iguais a quaisquer outros espíritos e têm os mesmos recursos e a mesma inteligência. Deus os criou como todos os demais seres, com a mais plena capacidade para se aperfeiçoar, a partir de suas lutas pessoais e de sua decisão de reorientar as suas vidas na direção do bem.
Os espíritos malignos e os assim chamados, “demônios” “diabos”, “satanases” podem se tornar “anjos” quando se cansam da prática do mal e também serão capazes de progredir para o bem.
Se admitíssemos os demônios, eles teriam sido criados “bons” e se tornaram “maus”, mas são apenas espíritos imperfeitos que vão melhorando com o passar dos séculos e um dia serão perfeitos, pois a evolução é o sentido natural reservado para todos os seres.
O Céu e o Inferno não são lugares geográficos, mas são estados espirituais, e assim, em todos os lugares onde existir o bem e a paz, teremos “o Céu”, e em todos os lugares onde houver o mal, o ódio e o desamor, teremos “o inferno”.
O progresso é livre. Não pode ser forçado. E se fosse forçado não teria sentido, pois não resultaria de uma decisão íntima e não sendo a expressão do livre arbítrio não teria mérito algum.
É neste sentido que precisamos tomar cuidado com o que chamamos de “ajuda” e de “caridade”, pois elas podem interferir e interferem no ritmo da evolução pessoal. Se alguém precisa padecer o que padece, qualquer ajuda irresponsável poderia atrapalhar a pena ou a recompensa que está sendo cumprida.
Isto é tão sério que, às vezes, apesar de todos os recursos da medicina que evolui, dos medicamentos e do progresso, nada pode curar uma doença ou aliviar uma dor quando ela for a reparação de algum mal praticado anteriormente.
Um remédio pode não funcionar. Um médico excelente pode errar e não ajudar em nada, quando um sujeito precisa padecer o que padece, em outras palavras, assim como não existem “balas perdidas”, não existem tragédias e nem acidentes, assim também não existem vítimas, não existem bruxos e nem curas milagrosas e nem loterias, também não existem “erros médicos”, porque tudo acontece por uma decisão maior e esta é uma das constatações de Allan Kardec em “O Céu e o inferno”.
A justiça de Deus é maior, melhor e mais justa do que a justiça “dos homens”, mas a justiça de Deus e dos homens às vezes são também convergentes e caminham no mesmo sentido.
Deus não leva ninguém a descobrir tesouro algum. Se o levasse seria parcial e injusto. Não dá sorte e nem azar a quem quer que seja, não livra a casa de ninguém da tempestade, da peste, do incêndio ou dos assaltos e nem impede que a chuva de granizo destrua a lavoura de um e não a do outro.
Toda a nossa riqueza decorre do trabalho árduo, das nossas reformas íntimas, do nosso trabalho na direção do bem, da ética, dos valores e da reestruturação moral. Não existem feitiços e nem castigos divinos, segundo o Cap. 10 de “O Céu e o inferno”.
“Aqueles que pretendam contar com o espiritismo para obtenção de milagres e com a força das mãos de Deus, não conhece nada a respeito da Doutrina, pior ainda, é um farsante”. “Livro dos médiuns”, Parte 1, Cap. 2, item 15.
Finalmente; o espiritismo sério jamais fez milagres, nunca ousou fazer a ressurreição dos mortos e quando um corpo é levado à sepultura, é definitivo e para sempre. Portanto, nada de milagres, nada de prodígios e adivinhações, nada de incenso, nada de velas acessas ou de promessas e muito menos de sacrifícios e rituais.
O espiritismo desaprova todas estas coisas, e ainda declara que nada se consegue sem a justa permissão de Deus, em função dos nossos méritos, de uma postura reta, da reforma íntima, do amor ao próximo e a Deus sobre todas as coisas.