Fuzis não matam vírus
O bom, o mau e o feio
Era uma vez, um filme maravilhoso chamado “O bom, o mau e o feio”, em cujo, durante a Guerra Civil Americana, Blondie, Clint Eastwood, agora com 90 anos e era – (O Bom), um caçador de recompensas fake, e qualquer semelhança com a república dos bananas seria mera coincidência!
(O bom), fingia capturar seu parceiro Tuco (Eli Wallach (1915 – 2014) – (O Feio), para ganhar a recompensa, mas como era tudo combinado, o liberta em seguida. Então eles desfazem a parceria, mas precisam voltar a trabalhar juntos quando percebem que cada um tem a metade de uma informação preciosa sobre um tesouro escondido num velho cemitério do oeste.
Enquanto isso, Angel Eyes,(Lee Van Cleef (1925-1989) que era – (O Mau), está em busca do mesmo tesouro, e os três, travestidos de justiceiros, se enfrentam num “truelo” épico e delicioso que tive a honra de assistir no Cine Carlos Gomes, na Campinas de 1969.
Fazendo a ponte entre a fantasia e a realidade, há pouco tempo, corria por aí boatos de um movimento “diabólico” tendia a facilitar o porte de armas, como se os nossos inimigos fossem assassináveis, algo que poderia ser combatido à balas, como se os arremedos dos brazilians cowboys e os bad boys, pudessem criar uma “licença para matar” mandando e desmandando nas pessoas e no país, como se já não nos matássemos tanto!
Quem anda armado não tem outra intenção senão a de se dispor da vida de algo vivo ou de alguém (senão não carregaria peso atoa), e isto se agrava ainda mais se eles não contassem com uma defesa tão poderosa, a ostentada proteção do Nosso Senhor e defensor Máximo e ainda se diziam portadores de uma tão poderosa fé.
Se é ou não é um retrocesso ao velho oeste, com as vênias de se tratar de uma “defesa” seria algo por demais ingênuo, porque também os bandidos alegam que usam armas para se defenderem.
No fundo é um desconhecimento grotesco de que à violência não se combate com armas, que as dificuldades humanas não são resolvidas com as armas, mas com a alma, com o resgate da sensibilidade perdida que vem da educação, o cultivo do espírito humano e esta é a nossa utopia e a razão das nossas buscas.
Já faz algum tempo que não “ponho pilhas” em algumas coisas, e uma das minhas convicções é de que a morte não existe, que ela é apenas um fim para o corpo físico. Creio na eternidade. Creio na vida eterna, no perdão e na resiliência, na transcendência e nas qualidades maiores da pessoa humana.
Não há o que matarmos num inimigo e devo mencionar o velho ditado freudiano de que “aquilo que eu não gosto no outro, eu devo mudar em mim”. Não há o que matarmos num bandido sem nos tornarmos iguais ou até piores que ele. Não há o que matarmos em alguém que nos faça mal, mesmo porque o que precisamos semear é o amor, a compreensão, o perdão e estes valores mais nobres que somente chegam até nós através da educação.
Estou entre aqueles que não acreditam na morte como “solução” para coisa alguma e precisamos, na verdade, dar ênfase numa outra ferramenta que é a escultura, a construção e na reconstrução humana que somente vertem da boa educação.
Mas para os cowboys, que sentido teria a salvação da Amazônia? Que importância teria a educação? Se bandido bom é bandido morto, e quem nasceu para morte não precisa ser educado! Ao contrário, imediatamente ameaçaram cortar todos investimentos nas universidades, nas ciências e nos institutos de pesquisas.
Se o que se deseja é colocar armas nas mãos dos bandidos e dar todos os recursos e ferramentas aos caçadores para que matem e destruam as florestas, o homem, os povos das selvas e os animais, então tanto faz! Ficamos sujeitos ao humor, à sanidade duvidosa e à mira dos “nossos” potenciais caçadores, como alvos, mas afinal, morrer por morrer, tantos faz se queimados ou baleados.
A ameaça da disseminação das armas foi especialmente um momento em que se tirava substancialmente os investimentos da ciência e da educação, como se o povo precisasse apenas e tão somente desses arremedos de bad boys na velha República do Faroeste, mas entre os ianques, há pelo menos uma aposta na educação e na ciência, embora lá, a educação e a ciência também são usadas como armas.
Nossos inimigos são muito piores e são outros, e o corona vírus é apenas um deles!
Mas contra os nossos reais inimigos todos os fuzis são impotentes, todas as armas não servem para nada e o inimigo real zomba das pistolas e dos fuzis, riem das bombas, dos seus efeitos morais e espirituais, das influências lacrimogênicas, do incrível poder de fogo dos terroristas e a história do diabo.
Pois agora desafiamos os snipers, os senhores da guerra e dos tiroteios, aos amantes das balas pedidas e lhes perguntamos: – Por que não enfrentam os seus reais inimigos? Para que servem as pistolas, os rifles, os winchesters e os fuzis?
E se não se deram conta ainda, é melhor acordar e perceber que fuzis não matam vírus, fuzis não matam a ignorância e nem a miséria, que os nossos reais inimigos não são emboscáveis, e então, finalmente há uma última pergunta não quer calar:
Para que servem as armas que não matam vírus! Armas que não matam a ignorância! Armas que não matam o vazio das almas! Armas não matam o desassossego e os obsessores! As armas que matam apenas nós mesmos, pessoas inocentes ou não, mas ninguém está aí para serem mortos por piores que sejam os seus crimes.
Armas são sinais das disfunções e do despreparo dos seus portadores. Armas são reflexos do caráter enfraquecido de quem as levam! Uma pessoa só anda armada em estado de desespero, quando no inconsciente se culpam e acham que são perseguidas.
O que afinal nos resta é a certeza de que as armas andam sempre nas mãos erradas e estão sempre nas mãos dos nossos prováveis caçadores, dos nossos futuros potenciais assassinos, para que “façam o pior uso possível delas” se é que podemos supor que alguém poderia fazer bons usos de uma arma, coisa que, às vezes, nem mesmo a polícia consegue faze-lo.
Uma arma é um instrumento que leva em si uma “intencionalidade” definida e clara; para ela não existe outro fim senão o de fazer o mal. Sabemos que elas não foram criadas para outro propósito, senão o de matar os seus próprios criadores, que depois de cria-la se fazem imediatamente seus alvos.
Que Deus nos proteja de nós, porque somos humanos, o único ser que constrói o que ele bem precisa para se fazer mal e se destruir, este ser que historicamente se converteu no pior de todos os caçadores, em “o caçador de si mesmo”.