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Como enlouquecer os outros

Como enlouquecer os outros

Os nossos pacientes perguntam o que é psicose e especialmente o que envenena a mente das pessoas, dos filhos e os nossos familiares. Acionamos às vezes uma maldade oculta que eventualmente é usada para a construção das doenças das pessoas que julgamos amar e fazem parte das nossas vidas.

Estamos nos referindo à uma certa “intencionalidade inconsciente”.
Quando criticamos, avaliamos e julgamos os outros, atuamos como se fôssemos melhores do que eles. Nós nos colocamos em uma posição “one up” e relegamos o outro à uma posição “one down” ou de inferioridade. Isto sim é arrogância! Uma augusta falta de humildade por não nos enxergamos mais.

Eu aprendi com a experiência que as psicoses são problemas de comunicação, portanto são comunicações. O que antes era conhecido esquizofrenia hoje reconhecidamente são problemas de comunicação, comunicações indiretas ou indireções, as falas encostadas e isto acontece entre as pessoas mais agressivas e menos saudáveis.

Vamos falar das esquizofrenias que é uma das mais comuns e das piores doenças do humano. Um esquizofrênico tem basicamente seis sintomas comunicacionais que são: os DUPLOS-VÍNCULOS, as MISTIFICAÇÕES, as INTERPRETAÇÕES, os CONFLITOS, as METACOMUNICAÇÕES e as CONFUSÕES.

Os DUPLOS-VÍNCULOS acontecem quando a fala tem duplos sentidos provenientes de pessoas críticas, arrogantes e julgadoras. Aquelas que têm o rei na barriga! A pessoa que ouve, em geral nunca acerta porque ela é levada a interpretar e interpretando ela sempre erra. É como se você dissesse “Faça o que você fizer e você sempre errará e será punido, mas se você não fizer nada, será punido por não ter feito nada”.

As MISTIFICAÇÕES são as falas do tipo: “Filho, vai dormir porque você está cansado”, desqualificando os sentimentos do outro e inferindo que ele está com cansado, ou dizendo: “Coma porque você está com fome” ou dizendo que alguém é louco, está confuso ou doente. Insinuando que o outro não sabe o que acontece consigo mesmo.

Quanto às INTERPRETAÇÕES, elas são desqualificações porque nela se diz indiretamente que a fala do outro não está clara, ou que este é confuso. Toda interpretação nas relações doentes são sempre equivocadas e o interpretador nunca acerta, porque devido aos duplos-vínculos e aos demais ingredientes da comunicação doente, ele está proibido de acertar e também será punido por não entender o que é comunicado. Todos se tratam como confusos e fazem profecias que se autocumprem.

Os CONFLITOS decorrem do fato de que toda comunicação confusa e duplo-vinculada, é essencialmente geradora de conflitos e esquizofrenógena, ou seja, ela é geradora de uma comunicação cindida ou de (splitings) e também se chama “esquizofrenia”.

A METACOMUNICAÇÃO é a comunicação sobre a comunicação. São os DRs – as discussões intermináveis das relações. É a fala sobre a fala. Coisas do tipo “Eu não entendi o que você falou”, quando se diz: “você é confuso e precisamos conversar sobre o que você disse”, “você concluiu precipitadamente coisas que eu jamais falei e etc.”.

As metacomunicações ocorrem todas as vezes que você precisa conversar para tirar coisas a limpo, ou tentar se esclarecer ou compreender coisas que você não entendeu na fala dos outros, e isto é mais comum do que imaginamos, entre as pessoas mais íntimas e intimamente confusas.

Finalmente existe a CONFUSÃO que é uma técnica sutil de adoecimento do outro, onde este outro nunca é aprovado, pelo contrário; é criticado e não acerta nunca, e como fica num ambiente crivado de intervenções esquizofrenogênicas inconscientes, interpretando sempre, negando, duplo-vinculando e mistificando, este vai deixando as pessoas ao seu redor confusas e inseguras.

Uma das coisas que mais confunde os filhos menores é falar mal dos cônjuges, dizer coisas do tipo: “a sua mãe está louca” “ela ou ele está nos abandonando e não quer mais viver com a gente” etc. Você enlouquece o seu filho e faz com que ele dê trabalho para você no futuro, seja usando drogas, seja expondo a riscos ou a necessidade de terapias e remédios, e assim você os treina para que agridam você mesmo amanhã.

Se isto se faz na vida social uma vez ou outra, estas enfermidades aparecem como “boatos”, “fofocas”, críticas à uma pessoa ausente que não está ali para se defender, isto além ser antiético, pode prejudicar e afastar as pessoas que fugirão para se proteger de você.

Quando acontece nas relações mais íntimas com familiares, cônjuges, pais e filhos, depois de um certo tempo você terá construído um sistema esquizofrênico, inicialmente os elementos mais fracos ficam angustiados e depois caminham para as “psicoses afetivas” que são os autismos e as esquizofrenias infantis quando acometem crianças, e às esquizofrenias quando atingem os adultos.

As recomendações terapêuticas são várias no sentido de que evitem as fofocas, os boatos e as críticas às pessoas. Use uma comunicação positiva enfatizando as qualidades dos outros. Falando cuidadosamente e claramente, evitando interpretar e usar uma comunicação duplo-vinculada, mistificadora e metacomunicadora.

Tudo concorre para a construção das psicoses ou das comunicoses, e isto na verdade, faz parte de um esforço inconsciente para enlouquecer os outros. O problema é que a gente não sabe (ou se esquece) de que se enlouquecemos aqueles que estão ao nosso redor, os nossos familiares e amigos, aqueles que fazem parte do nosso sistema social e familiar, nós também fazemos parte dele e podemos também nos enlouquecer.

Expresse a sua afetividade positiva para com os seus amigos e familiares. Ame de verdade! Elogie. E se nada disso funcionar, a humildade e as terapias podem ser a grande ajuda.

Frequentemente nós nos prejudicamos prejudicando os outros, envenenando a mente dos nossos familiares e amigos, ou dos nossos companheiros existenciais. Fazemos campanhas ocultas estragando aqueles que poderiam cuidar de nós no futuro, e então, quando o futuro chegar, pagaremos pelo que fizemos de mal no passado, às vezes, sem saber.

Às vezes somos cruéis demais conosco mesmos, amando aqueles que não nos querem bem, ou, ao contrário, sendo bonzinhos demais com aqueles que nos querem mal.

Isto é tudo o que não deveríamos querer para nós, mas se não estivermos saudáveis, não haverá muito o que fazer, e como diz o velho e sábio provérbio árabe: “Que Deus nos proteja de nós!”

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José Carlos Vitor Gomes Psic.

José Carlos Vitor Gomes Psic.

Atua como psicoterapeuta, psicoterapeuta familiar e de casal desde 1979. Fez cursos de especialização nos Estados Unidos, Argentina, Colômbia, Itália e no Brasil. Foi um dos pioneiros na divulgação da psicoterapia familiar no Brasil. Foi organizador de 53 eventos com celebridades nesta área com a participação de mais de vinte mil profissionais brasileiros.

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