APRENDENDO AMAR
Eu que mal sabia que o amor era o contrário de tudo o que eu antes amava, eu que pensava que amar era vencer sempre e pensar apenas em mim.
O tempo passou, e a idade foi ensinando que amar é ser feliz ao contrário, ou seja, é aceita ser contrariado em nome da paz e não morrer de dor por isto, porque tudo o que dói demais é irreal, é insustentável e não prospera.
Eu fui me tornando um forte vencedor na medida em que aprendia a perder para ganhar e não sofrer.
Tornei-me ciente de que uma coisa é ter êxito, e outra coisa é ter paz e ser feliz.
Fui descobrindo a duras penas que, para ter paz eu teria que “concordar”, porque amar é a arte de concordar e de ser um bom perdedor para que o outro vença, e tendo a ilusão de ter sucesso, os dois possam sair vencedores.
Estando em paz, viveremos a plenitude do sentido, porque na guerra não existe, nunca existiu e nem existirão vencedores.
Matar o inimigo que você inventou é se tornar um lutador solitário, pois com a morte do inimigo não existirá mais nada, além dos fantasmas que o assombrarão pelo resto da vida, porque o bom da luta é a própria luta, e não a morte dos que lutam, pois, morrendo, a luta perde a razão e o seu “para quê”.
Eu fui aprendendo a amar concordando, e concordar “com córdis” é deixar o seu córdis, ou seja, o seu coração, vibrando as suas cordas no mesmo ritmo do coração do outro, e assim, corações consoam no mesmo tom nas melodias da alma.
Aprendi que, às vezes, preciso me silenciar, pois afinal, a música também é feita do silêncio que existe entre as notas, porque sem o silêncio, a música seria impossível.
Continuo aprendendo amar, quando consigo me colocar no lugar do outro fazendo empatia, isto que tantos sonham e mal compreendem o que é, que tentam fazer e que, às vezes, não conseguem talvez por falta de humildade.
Empatia é mais do que letras mortas, mas é o amor vivo e real, e sem amar de verdade é impossível sentir o lugar o outro e ajudá-lo a levar os fardos da vida.
Eu estou aprendendo que amar é a essência da empatia, é assumir o mesmo páthos, ou seja, é quase se adoecer como o outro, para sentir em si a exata dimensão da dor alheia.
Estou aprendendo que amar é estar “conformado” e se conformar é assumir uma nova forma, é ter a “forma” do outro e se identificar é se igualar com ele, e isto é a própria empatia.
Sentir o frio do outro e empatizar-se, é ter o mesmo páthos, é ousar assumir a mesma patologia que o outro tem, sem o quê, o amor seria impossível.
Então, por vezes, eu precisei quase que me exilar de mim e desistir de mim mesmo, e desistir significa “deixar de existir”, “desistir” é se anular para que o outro se sobressaia, para coexistirmos em comunidade, que é o lugar da comunhão.
Isto passou a ser importante, porque no mundo competitivo, eu precisarei fracassar para que o outro ganhe, porque amar é se conformar à condição de perdedor, porque o óscar do vencedor é a sua própria cruz que é o pódio aonde subiu Jesus.
Eu fui aprendendo que amar é concordar.
Concordar não é apenas “aceitar”, mas concordando eu deixo o meu “córdis”, ou seja, o meu coração, afinado e vibrando no mesmo tom que os dos outros e me pacifico.
O amor nos conduz a um destino imprevisível onde eu sempre terei que me reconciliar, e me reconciliando me concilio, me harmonizando com o amor que é essencialmente pacífico e conciliador.
Quando assumo a aventura conciliadora de viver, eu semeio a paz e me submeto empática e concordantemente ao outro, como uma prioridade para o mundo.
Isto não é fácil.
Para que isto seja possível, eu preciso ter humor, porque humor também tem a ver com tornar-se humano e ser profundamente forte e resiliente, porque amar não é tesouro para qualquer um, mas é algo que se reserva aos fortes.
Amar é ter bom humor, e humor em latim tem a ver com húmus, com humano, com o homem e a humildade, tem a ver com o líquido que umidifica a terra e faz nascer a semente.
Húmus tem a ver com a umidade dando liga à massa, com o humere, ou com o estar molhado para que os grãos se unam e torne possível o pão.
José Carlos Vitor Gomes
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