A última viagem
Os amigos e amigas que se encontram com você nos corredores da vida e dizem: – “UUUUUUUU” como vai você? – Nossa quanta saudade! – Que surpresa boa! E então assumem compromissos de se falarem mais nos próximos dias ou nas próximas horas e depois somem e estas coisas se repetem quando, por acaso se encontram de novo.
– Como foi a sua “última viagem”?
Então eles conversam, trocam os seus cartões e telefones e falam dos últimos progressos, no entanto, o “tempo passa” e nada é concretizado e assim fica a impressão ruim que não se resolve mais, e perde-se de vez a confiança e a esperança em algo mais real. Amigos se procuram!
O tempo passa e nunca mais se falam e você o convida para as suas últimas coisas e eles dizem: – Claro, claro! Eu estarei lá! Mas é óbvio que eles nunca se associam com você e às suas coisas para nada.
Você participou das coisas deles e bateu palmas, mas eles eram poderosos demais, importantes demais para retribuírem e participarem das suas coisas. São doutores! Eu já soube de “grandes amigos” que nunca se prestigiaram em nada, e passaram a vida sonhando que seus amigos participassem das suas realizações. O lançamento daquele livro, que para ele foi tão importante quanto o nascimento de um filho, e então, a última esperança é o velório de alguém!
O problema é que os velórios são profundamente injustos, um não pode jurar que vai no seu velório e que você vai no velório dele. E assim, alguém fica sempre na desvantagem. Será que ainda nos veremos? Quando? Como? Para que?
As amigas se encontram na depilação, no cabelereiro ou na fila da químio”, e com elas acontece a mesma coisa e elas se reatam do nada e parece que são amigas íntimas há muitos anos… são as quase “irmãs” que depois desaparecem… São transitórias demais…
Quando você está com alguma dificuldade, perdeu alguém, ou foi vítima de traição, elas reaparecem do nada como se fossem “terapeutas”, dão conselhos e ficam numa posição (one up) ou de superioridade, mas quando você está feliz elas desaparecem porque ser feliz incomoda os falsos amigos, aqueles que não gostam de celebrar a felicidade das pessoas…
– Ser feliz é uma ousadia! Como ousas? Você deveria sentir culpa!
Muitas vezes até esboçam projetos em comum, prometem contatos; – Vamos tomar um shop juntas? Mas saindo juntos percebem que não se tratava de nada real, mas da manutenção de uma “Network” e as pessoas reais não gostam de confundir amizades com networks e as relações com esse nível de frieza tendem a não ir adiante.
Foi assim outro dia com um velho “amigo” que nunca se deu ao trabalho de ligar para termos um contato real como “amigos” e simplesmente tomarmos um café ou darmos risadas, mas ele queria manter vivo apenas o elemento da sua network (da sua rede política de relações), destes amigos que a gente guarda para quando precisar.
Pensando bem, foi até melhor assim! Quando não se deseja crescer realmente juntos é melhor desaparecer. Precisamos deixar de usar os outros como “objeto” dos nossos interesses. Isto se chama psicopatia! Se fosse para ser assim, tão fake, bastaria nos “adicionarmos nos facebooks da vida” apenas para termos a ilusão de um grande “número” de fotos de seres inexistentes e fingir que somos amigos.
– Alguma vez você já pensou em ser alguém de verdade?
Será que não convém sermos seres reais? E se os velhos amigos e os parceiros fossem mais reais e menos líquidos? Seres irreais não fluem e não participam mutuamente da vida uns dos outros, porque são bonecos de cera e não pessoas, por isto não se prestigiam e nem precisam semear aquilo que desejam colher!
Se patrocino um curso sobre um determinado assunto, eles vão aprender sobre o tema com outros grupos, talvez para não darem a impressão que desconhecem algo, têm dificuldade de dizer “eu não sei”, ou simplesmente, não desejam celebrar o sucesso de um amigo. Eu tenho uma excelente amiga de faculdade que oferece belos cursos e se tornou especialista em sua área e quase ninguém que se formou conosco foi aprender “com” ela.
Durante muito tempo eu tive amigos assim, daqueles que estão acima do bem e do mal, que sabem tudo e preferem buscar conhecimentos “no exterior”, mas não estimulam os amigos com os quais poderiam somar.
Como seria tão bom sermos amigos reais, amigos que saibam tão pouco quanto nós, amigos de carne e osso que possam exibir as suas dúvidas e desconhecimentos, amigos que desejem crescer e trocar e possam fazer do Facebook, algo mais do que um mural onde são exibidas as fotos da “última viagem”, como se a vida em si mesma não fosse a mais bela de todas as viagens… e da “última viagem” de verdade, com certeza, as mais ricas fotos nos serão omitidas.