A arte de brigar para não se separar
Kathy Isler
O grupo de Palo Alto, por volta de 1950 inventaram a terapia familiar e de casais e perceberam algumas coisas importantes sobre a cura, por exemplo, o estranho fato das pessoas procurarem terapias para não se curarem e para não se transformarem.
Procurar terapia, portanto, não significa que o paciente queira realmente se livrar dos seus flagelos. Que neste mundo existem santos e nem vítimas. Que, às vezes as vítimas são muito piores do que os seus algozes e o assassinado, muitas vezes é pior do que seu assassino.
Daí surgiram descobertas interessantes e históricas como, por exemplo, a incrível arte de ser infeliz por parte do cliente, e por outro lado, a sábia arte de fracassar como terapeuta por parte do profissional, pois a cultura se adaptou à esta situação e passou a depender das suas mazelas. Assim, eles se completam e se ajudam a continuarem exatamente como são, um paga e finge que se cura e o outro recebe e finque ajuda, pois fracassando eles podem manter a sua fonte de renda.
E afinal não é disto que vivem os planos de saúde, os laboratórios, os traficantes e a indústria da miséria?
Foi assim que as terapias, a medicina e a justiça, se tornam mega indústrias, e mais de 80% das profissões do mundo atual são profissões de ajuda, e assim, se repente o mundo resolvesse se transformar e se curar de verdade, todo estes batalhão imenso de milhões e milhões de pessoas que dependem das suas doenças mútuas, das suas angústias, da injustiça e da dor para sua subsistência, entraria em colapso.
Convém deixar claro de uma vez por todas, que a paz, a saúde e a felicidade não interessam realmente a ninguém, a não ser a alguns iluminados e sábios, que quase não existem mais. Todo mundo que se meteu a fazer um trabalho transformador, foi assassinado, foi destruído ou perseguido, desde Cristo até Gandhi, desde Luther King a Sócrates e assim por diante.
Politicamente, temos necessidades quase que autodestrutivas, mas com certeza compulsivas de elegermos aqueles que não nos socorrem, aqueles que nos sacrificam e nos perseguem, e quando cometemos o deslize de eleger alguém que poderia nos fazer algum bem, eles são prontamente destruídos. É assim as ovelhas elegem os seus lobos. É assim que as galinhas elegeram as suas raposas e é assim que o homem vota nos seus piores inimigos e elegem os seus malfeitores preferidos.
Entre os nossos melhores inimigos eleitos, estão seres extraordinários como Hitler, Trump, Bashar El-Assad e etc., todos eles escolhidos a dedo para serem os nossos piores flagelos, os nossos abandonadores, e assim, o mundo nunca esteve tão exposto nas mãos dos seus psicopatas escolhidos e sabemos bem o que queremos, por isto os colocamos onde queremos que eles estejam e nos colocamos onde estamos. Não somos vítimas!
É que nós nos tratamos muito mal e precisamos deles exatamente como o são e os colocamos lá, exatamente onde precisamos que eles estejam. Não somos vítimas senão de nós mesmos. É impossível a existência de uma nação perfeita, governada por dirigentes imperfeitos, porque eles foram escolhidos sobre medida e foram colocados onde estão, por nós mesmos e é por isto que eu gosto da sábia frase Libanesa que nos diz:
“Que Deus nos proteja de nós!”
A necessidade das brigas para permanecer juntos
No campo dos relacionamentos as coisas também são assim. Os casais procuram os piores parceiros que conseguem encontrar, às vezes ainda antes de nascerem, no plano espiritual, e quando erram miseravelmente e por acaso escolhem alguém bom, fazem um belíssimo trabalho de mútuas distorções, onde um piora o outro, até esculpi-lo e torná-lo exatamente aquilo que eles precisam para serem infelizes na medida certa
E depois procuram terapias, benzedores, pais de santo e sabotam todos os seus ajudadores e socorristas, sabem por quê? Porque devido as suas programações cármicas e os seus sentimentos culpas, eles não suportariam de verdade serem ajudados.
Temos sido os nossos próprios bodes expiatórios, ou como diz o filósofo Sartre; “somos os lobos de nós mesmos”.
Ainda que o parceiro seja ótimo, nós nos encarregaremos de estragá-lo com uma comunicação imprecisa e confusa, porque daí o nosso parceiro facilmente se esquizofreniza e uma comunicação para ser otimamente esquizofrênica não precisa muita coisa além de alguns ingredientes que a envenene como: os duplos-vínculos, a metacomunicações, as mistificações, as confusões e os conflitos.
Quando tudo dá errado, é ótimo porque isto passa a justificar as traições e os novos relacionamentos que são aparentemente muito mais estimuladores que os atuais. Nunca se casou e se separou tanto no mundo. As pessoas não querem mais resolverem os seus problemas, e simplesmente se abandonam e partem para experiências novas porque estas são ilusões de ótica, como uma “nova espuma” e um prazer que também será passageiro, mas o interesse é mesmo pela transitoriedade, por tudo que é passageiro, rápido e efêmero.
A sexualidade e as trocas de parceiros são as diversões preferidas da pós-modernidade.
Do ponto de vista espiritual, melhor ainda, pois as pessoas estão num mundo de provas es expiações, onde ninguém tem garantia alguma de paz e de que serão felizes. As pessoas se ofendem e desentendem porque assim elas não se dão ao trabalho de terminarem cuidadosamente as suas relações. Não nos demos conta ainda de que estamos juntos para os nossos “acertos de conta” existenciais e espirituais e raramente as almas gêmeas se encontram e permanecem juntas no tempo.
Almas gêmeas são as impressões iniciais daqueles que se atraem porque já se maltrataram tanto, tanto, que precisaram se escolherem novamente e voltarem para os acertos definitivos das suas dívidas mútuas, mas quanto mais se maltratam, mais se amam, mais se atraem, mais se apaixonam, mais se grudam e mais insistem na permanência juntas (como inimigos aparentes).
Eles por vezes se agridem, porque assim garantem a sua jornada conjunta, e os mais sábios treinam a sua resiliência, a sua paciência e a sua tolerância, a sua capacidade de perdoar. Viver juntos, afinal, é um ato de coragem das pessoas fortes. Manter relacionamento não é coisa para gente fraca, a não ser quando completamente doentes ou estão se matando.
Os mais lúcidos sabem que é se machucando que eles continuarão juntos para expiarem as suas culpas, para reparem os seus erros, e quando não resolvem os seus problemas nesta vida, elas precisarão voltar para terminar o que foi começado.
Isto não é exatamente uma novidade, pois segundo Jung, Rossandro, Dutra, Bert Hellinger e etc.; “tudo aquilo que não for terminado, se tornará o nosso destino” e assim as coisas emaranhadas precisariam serem desenroladas e quando isto não ocorre, segundo Bert Hellinger, o pai das constelações familiares “a vida vai acabar nos capturando de volta para nos concluirmos e seguirmos os nossos destinos.
Quando Jean Paul Sartre nos lembra da chamada “Intencionalidade inconsciente”, ele nos ensina o óbvio, que todos nós sabemos perfeitamente bem o que estamos fazendo aqui. Que as nossas intenções são inconscientes, mas são claras para as nossas almas. Somos seres que se escolhem com propósitos muito claros e as pessoas se ofendem clara e intencionalmente “para” continuarem a sua dolorosa jornada juntas.
Brigas não separam ninguém. O divórcio agressivo existe para nos unir ainda mais. As separações agressivas, às vezes, nos casam definitivamente e é brigando que eles se entendem e garantem num plano espiritual e maior a continuidade do seu relacionamento.
Espiritualmente os casais em conflito não querem, não precisam e não conseguem se separar.
Um casal somente se separa quando estão em paz, quando estão felizes, quando se abandonam de forma tão leve e tão suavemente como os frutos que ao estando maduros se soltam do galho em nossas mãos sem o mínimo esforço, ao passo que os frutos verdes estão presos e somente se soltam às custas de um imenso trauma, porque não estão prontos para seguirem adiante, porque o resgate ainda não foi construído.
Sabemos que ninguém está aqui na Terra para ter paz e nem para ser feliz e que este mundo não é um exatamente um recanto para a felicidade eterna e nem um paraíso.
Estamos aqui para pagarmos as nossas dívidas com as pessoas com as quais vivemos, com as nossas famílias espirituais, pendências de outras colinas ancestrais. Esta é a tese de Bert Hellinger e das chamada “constelações familiares” em uma visão mais espiritualista da vida, onde se sabe que os “brigões” não conseguem ir embora, não querem se separar, se atacam e se abandonam porque desejam permanecer sofrendo ainda mais intensamente e por mais tempo juntos.
Se você se perguntar, então, qual é o sentido de uma terapia se não o de se curar, temos a dizer que as boas terapias não oferecem curas, mas oferecem a escuta ativa, oferecem um lugar para se falar e eventualmente encontrar um sentido para a vida.