A arte de auto assustar-se
C. S. Lewis, Belfast, 1898 – 1963) em seu livro “Cartas do Diabo ao seu aprendiz, afirma que “os maiores males e crimes são criados, arquitetados e executados em escritórios limpos, atapetados, refrigerados e bem iluminados por homens de colarinhos brancos, loiros ou ruivos, de unhas bem cuidadas, bem barbeados e que jamais elevaram seu tom de voz.
Estes são os piores demônios! O Diabo é gentil!
Por isto, abordarei aqui a horripilante aparência do “Diabo”, em relação à cor negra, os chifres, o cheiro de enxofre e os seus ridículos pés de bode que inundam as nossas mentes infectadas por preconceitos, acreditando que tudo o que é diabólico e ruim, seria necessariamente negro. Talvez seja interessante olhar às lendas sobre às aparições do “Diabo” com os seus pés de bode ocultos por debaixo das mesas, das batinas, dos vestidos e das togas engomadas e totalmente ao acaso e acima de quaisquer suspeitas.
A polícia é pior que os criminosos que ela deveria combater e a sua missão é matar todos os homens de bem e as crianças que roubam para comer, ao invés dos marginais, quando, na verdade, devemos a elas um mundo mais justo para que não tenham que roubar, traficar e matar; todavia, por estranho que pareça, esta não tem sido a escolha da humanidade.
O “Diabo” sabe que isto não é mais do que uma farsa, e em sua filosofia infernal, encara todos esses chistes e toda essa palhaçada como algo ridículo. Ele se deleita com a oportunidade inventada para ofuscarmos a nossa visão original e deve dar risadas ao assistir a confusão das nossas mentes enfraquecidas, e provavelmente saiba que os homens estão quase sempre dispostos a fazer de cada um dos seus espantalhos íntimos, um “Diabo” perfeito e feito sobre medida, para se auto assustar e bolinar seus semelhantes.
Façamos então de conta, que o “Diabo” é algo objetivo e real. Que ele não é o pior retrato possível de nós mesmos. Quando na verdade, ele se alimenta das nossas trapaças e autossabotagens e sabe tirar proveito de todas as nossas inconsequências. Refiro-me aqui aos nossos diabos íntimos que são cultivados na horta secreta das nossas almas!
Dizem que o que faz a assombração é o medo. O medo que é cultivado com todo zelo e cuidado para que o impacto do espanto seja do tamanho que o esperamos. Talvez por isto que invistamos tanto na bolsa das emoções, nas montanhas russas da vida, no body jumping, nas touradas, no paraquedismo, no turismo às favelas para enfrentar a emoção das balas perdidas, como se perdidas já não fossem as nossas esperanças.
Eu não duvidaria de que ao Capeta, se lhe for permitido ter alegrias, ele deve rir das horripilantes figuras e formas monstruosas nos designs que dele fazemos, em especial percebendo a nossa inclinação para pintá-los sempre em negro, em fazê-lo parecer o mais e feio possível, somente para depois nos sobressaltarmos e nos arrepiarmos na intensidade certa com os monstros de nossa autoria.