Blogoterapia

É um blog sobre psicoterapia, filosofia, arte e o sentido da vida para passar um conteúdo dinâmico e diário, para troca de conteúdos que possa ser terapêutico.

A arte de amar e ser feliz

Eu achava que o amor fosse eterno, mas no mundo das coisas líquidas e passageiras, nada tem o direito de ser definitivo e muito menos para sempre. Nascemos sós e morremos sós. Ninguém nos conhece e nem conhecemos ninguém plenamente, pois o coração é uma terra que ninguém vê.

Se não fosse assim não haveriam surpresas, os relacionamentos seriam para todos sempre, mas a verdade é que tudo parece eterno quando ainda existem espumas e estamos bem. Mas o namoro, a paixão, o casamento e o romance tem prazos de validade e como tudo na vida; tem começo, meio e fim.

De repente numa conversa de bar ou no Whatsapp o comentário é de que um certo relacionamento acabou.

– Nossa! Não deu certo então!?

Mas claro que deu certo. Deu certo sim enquanto não acabou! Deu certo durante anos e que se passaram. Deu certo enquanto existia, enquanto havia espuma, enquanto um coração batia pelo outro. Deu certo enquanto um não tinha olhos para mais ninguém, enquanto os pensamentos só tinham uma direção.

Nos últimos anos, a humanidade vivencia novas coisas, os relacionamentos abertos, o poliamorismo e todas as desculpas que o mundo inventa para justificar as suas aventuras. O bom é que todos os interessados podem mudar e terem vários relacionamentos, mas quase nenhum amor.

As pessoas não sabem muito bem o que é amor e que não é impossível amar sem ter ética, sem lealdade e fidelidade.

Eu não acredito em caras metades, na outra metade da laranja ou em almas gêmeas. Somos feitos uns para os outros por algum tempo e enquanto somos felizes juntos. Na verdade, as pessoas não se complementam e não são feitas para se completarem. Todos são completos. Todos ficam melhores quando se somam, enquanto são saudáveis juntos e se encontram.

Se muitas vezes nós mesmos não conseguimos dar tudo de nós, então, por que cobrar cem por cento do outro? Não estamos no mundo para completar e sermos completados por quem quer que seja numa visão mais egoísta do homem Lost.

Às vezes um homem é fiel, mas não é bom de cama, ela pode ser linda e ser fria. Ele é bonito, mas é infiel… e assim por diante, somos todos seres em construção e por isto somos imperfeitos, não temos tudo embora sejamos inteiros.

A pele é naturalmente traiçoeira. Ela é a primeira coisa que aparece no contato e o amor pode chegar atrasado e mais tarde e dar algumas poucas garantias de humanidade, lealdade e graça. Quando existe pele, um papai/mamãe básico pode ser a coisa mais maravilhosa do mundo.

Por outro lado, um sexo olímpico pode não impressionar e nem encantar o parceiro. O beijo pode ser mais importante que o sexo, e quando um não quer mais o outro equilibrado pressiona. Ninguém está nas mãos de ninguém, se ele ou ela não quiser, ninguém segura e quando se apreciam nada impede.

Um parceiro amoroso tem todo direito de não querer mais. Ele ou ela tem as suas razões para não amar mais, portanto, não adianta chilique, ficar ligando e forçando sentimentos, pois ele ou ela, pode simplesmente não querer mais e pronto!

Quando a pessoa está insegura ou em dúvida, com ou sem razão, isto nem sempre é problema seu, embora seja melhor respeitá-la, mas cabe a você esperar ou não.

Eu conheci mulheres que amavam homens que não grudavam nelas e iam embora como se não se importassem mais com nada. Eram destas pessoas que precisavam da ausência para quererem a presença, e precisam perder o seu amor para depois amá-lo perdidamente.

Eu conheci homens que se grudavam em suas mulheres somente para que elas fossem embora e assim construíam os seus amores sofridos e impossíveis, pessoas que construíam seus abandonadores. Conheci pessoas ciumentas que lutavam para perder os seus amores porque o exagero do ciúme, ou é uma homossexualidade latente ou são sinais daquele que deseja sair da relação.

Há controvérsias sobre a necessidade do outro, se necessitarmos ou não do outro, sobre o desinteresse e as afirmações de que não devemos ficar com ninguém “por interesse”. Isto é um ideal utópico. Todas as pessoas somente ficam quando se interessam. Que sentido teria ficar com alguém sem interesse algum por ele?

Tenho notado que ninguém fica com ninguém sem precisar deste alguém! Imagine que se você tem algo que não lhe interessa e do que você não precisa, o que você faria com ele? O que sentiria alguém do seu lado se você não precisasse dele? O que sentiria senão uma sensação de profunda inutilidade?

É uma bobagem ficar com uma pessoa pelo que ela tem materialmente ou pelo que ela tem a nos oferecer seja o que for. É fácil descobrir isto quando perguntamos a alguém: “Porque você me escolheu”? “Porque escolhestes estar comigo”? Quando a pessoa responde a esta pergunta, verá que todos têm razões porque escolheu ficar com alguém.

Uma visão humanista levaria em consideração o mistério da unicidade humana, a irrepetibilidade do ser e é exatamente o oposto do que normalmente vemos no dia a dia. Você somente deve ficar com uma pessoa se você “precisar profundamente” dela, por se interessar por ela, se ela for única no mundo “para você” e vice-versa, excluindo aqui todos os interesses por fatores materiais.

Quando se ama alguém de verdade ele é insubstituível, se o amor for recíproco, então eles “se precisam” e nada no mundo poderia substituir o outro. Precisar superficialmente por motivos materiais nos apequenaria, mas precisar do outro como um ser espiritual é nobre e é humano.

Ficando com esta pessoa por amor, por necessidade e pelo interesse que nasce no centro de uma relação Eu-Tu, atua-se como nos ensinam Martin Buber e Viktor Frankl. É impossível imaginar a vida sem ela, até porque um agrega sentido à vida do outro. Ficar com um parceiro que não faça diferença alguma em sua vida e que não o queira mais intensamente, é nutrir um relacionamento vazio e superficial.

Diante disto sequer podemos dizer que o outro não é absoluto. O que faz dele algo único e absoluto, é o fato de não existir ninguém igual a este ser no mundo, e isto, somente que já amou de verdade poderia entende-lo. Chegamos a tantas coisas juntos! Caminhamos para a perfeição porque o nosso relacionamento nos conduziu a isto e não teríamos chegado aonde chegamos sem o outro.

O outro é um ser que erra, tem dúvidas, medos e é falível, mas se as pessoas se gostam, elas ficam porque as suas almas sabem aonde elas querem chegar. Elas têm sentido juntas. Os nossos pais são únicos, necessários e precisamos deles. São insubstituíveis para as nossas vidas, e foram o que foram para que fôssemos o que somos hoje.

Por outro lado, que graça teria ter alguém do seu lado sob chantagem, se ficou por estar grávida, pelo seu dinheiro, porque você é bonito ou bonita e tem uma sexualidade boa? Todas as vezes que existem porquês, eles são quase sempre falsos e as pessoas são descartadas friamente.

O desejável é alguém estar com você por você, pelo que você é e não pelo que você tem. Que ninguém fique com ninguém por dó ou por medo da solidão. Sozinhos todos seremos sempre. Nascemos sós e morreremos sós e procuramos presença do outro para amenizarmos a dor de viver.

Quando você se desperta, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar e seu pensamento são seus, e depois as nossas impressões se somam e são “nossas”. Tudo é compartilhado, e este é o sentido de se ter um filho, onde se somam todas as coisas e toda existência.

Existem aqueles que pulam de um romance para outro, buscando “algo” que desconhecem e que o outro pode não ter e neste caso, o interesse pelo outro e a necessidade que ele tem é absoluta. Necessitar de alguém pelo que ele é, e não pelo que ele tem é ser humano e amadurecido.

Quem tem medo de ser só, fica com o outro por interesse e por temer a sua própria companhia. Têm medo de si mesmos. Sentem-se assombrados. Na verdade, amar dói. Gostar dói. A raiva, o ciúmes, o ódio e a frustração fazem parte da vida.

Se você se enamora, se defronta com um outro mundo e se apaixona por outro universo. Tudo é mistério. Ninguém pode ser sábio nesta matéria e poucos conhecem sobre ela em profundidade. Assim, como ninguém consegue tomar banho no mesmo rio uma segunda vez, a gente se encontra com cada pessoa uma única vez e na próxima oportunidade, eu serei outra pessoa e ela não será mais a mesma.

As coisas não são o que pensamos sobre elas e não saem como queremos. Uma das piores coisas do mundo é a gente se envolver com quem tem medo de se envolver. Tudo vai justificar o não-envolvimento e todas as teses serão no sentido de que não devemos precisar do outro.

Não precisar do outro é uma grande bobagem sexista dos anos sessenta. Todos precisam de todos. No amor especialmente, todos precisam precisar de todos porque é neste sentido que a caridade e o amor funcionam. Por isto o dentista não pode extrair o seu próprio dente e nem o médico pode fazer a sua própria cirurgia. Sabem porquê? Porque todos precisam precisar dos seus semelhantes e ninguém está só.

As pessoas não precisam serem codependentes, nem sempre são independentes, mas quase todas sempre são interdependentes. Estamos num nível onde todos precisam uns dos outros nas mínimas coisas e isto nem sempre é visível.

Se você não quiser ter a sensação de cobrança ou de estar sempre envolvido ou envolvida com algo, adote um animal, namore uma árvore ou uma pedra. Talvez eles não dependam e não precisem tanto de você. Os seres humanos são sistêmicos e interdependentes. Tudo o que eles fazem atinge a todos, é impossível não se comunicar e tudo o que fazemos diz respeito a toda a humanidade.

Em que pese tudo isto, na vida e no amor, não existem garantias. Todos nascem e morrem sós e passam pela vida tentando superar a solidão buscando parceiros para que a vida seja fácil. Procuramos parcerias porque sabemos que a esta altura da história da humanidade, ninguém consegue viver e nem fazer mais nada sozinho. Tudo funciona como um sistema. Precisamos formar times para quase tudo, e também no amor, nada acontecer isoladamente e só.

Nem todo sexo bom é para levarmos ao casamento, como disse Arnaldo Jabor, mesmo porque, estamos cansados de saber que o casamento pode representar o fim do amor e ser tumulo da sexualidade. Nem todas as pessoas que amamos ou saímos, são casáveis e nem servem para formarmos boas parcerias.

Com beijo ou sem beijo, que pode nos levar a romances ou não, a vida é bela. Sexualidade boa nem sempre se constrói e por isto nem todo sexo bom é para se descartar, porque ele nem sempre nos leva a nos apaixonarmos, e às vezes, nos geram mais culpas do que felicidade.

Todas as coisas são boas com a pessoa certa, no lugar e na hora certa e como disse o poeta: “Você não imagina a força das coisas quando elas têm que acontecer”. Tudo o que é nosso chega às nossas mãos. Que nos abramos para a vida e isto não significa que viveremos para sempre felizes.

Bem feito!

Estamos todos lutando por sermos mais plenos, porque assim teremos cada vez mais inteligência amorosa, porque ser adulto é ser sensível, é ser saudável, é ser feliz e humano, mas ninguém disse que seria fácil!

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José Carlos Vitor Gomes Psic.

José Carlos Vitor Gomes Psic.

Atua como psicoterapeuta, psicoterapeuta familiar e de casal desde 1979. Fez cursos de especialização nos Estados Unidos, Argentina, Colômbia, Itália e no Brasil. Foi um dos pioneiros na divulgação da psicoterapia familiar no Brasil. Foi organizador de 53 eventos com celebridades nesta área com a participação de mais de vinte mil profissionais brasileiros.

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