O que é psicoterapia – Parte II
As pessoas frequentemente perguntam qual a diferença entre Psicanálise, a psicoterapia, a Psicologia e a Psiquiatria e embora sejam áreas afins que às vezes se confundem entre si, tentaremos uma diferenciação facilitando a compreensão.
A Psicoterapia não necessariamente nasceu da Psicologia clínica. Ela flui mais da Medicina e da Psiquiatria, e cresce a partir delas, com a finalidade de estabelecer teorias e métodos para lidar com problemas mentais e existenciais usando palavras e não medicamentos.
Os psiquiatras são médicos, são os únicos que podem dar receitas e oferecerem medicamentos, eles podem também fazer psicoterapias quando são treinados para isto.
Ser formado em Medicina não significa que o profissional esteja preparado para oferecer psicoterapia.
O primeiro grande psicoterapeuta foi Sigmund Freud, médico neurologista e criador da Psicanálise, ele que, seguindo os estudos de Charcot, Pierre Janet e Joseph Breuer, descobriu a origem mental das neuroses e desenvolveu o primeiro método de psicoterapia.
A Psicoterapia evoluiu muito durante os últimos 100 anos e existem hoje diversas linhas, diversas escolas e abordagens que seguem a tendências psicanalíticas derivadas de Freud como (Alfred Adler, Carl Gustav Jung, Melanie Klein, Jacob Levy Moreno, Jacques Lacan, Pichón-Riviere, etc.). No pensamento existencialista temos; (Viktor Frankl, Rollo May, Irvin Yalom, Jacob Schneider, Alfried Längle, Van Deurzen, Spinelli, etc.). Entre os humanistas aparecem (Carl Rogers, Fritz Perls, Eric Berne, Eugine Gendlin, etc.). Entre os cognitivos-comportamentais se projetam (Albert Ellis, Aaron Beck, Jeffrey Young, Linehan, Hayes). Finalmente, entre os sistêmicos surgiram (Salvador Minuchín, Virginia Satir, Milton Erickson, Jay Haley, Paul Watzlawick, Mara Selvini Palazzoli, Maurizio Andolfi, Carlos Sluzki, David Epston, Michael White, Bert Hellinger entre muitos outros).
Enquanto a Psicologia é a ciência que estuda o psiquismo humano, a Psicoterapia é o método de tratamento. Muitas pessoas afirmam que a Psicoterapia nasce da Psicologia, porém, frequentemente é o contrário: a Psicoterapia tem instrumentalizado a Psicologia durante os últimos anos e, às vezes, na prática clínica, a técnica e as psicoterapias vêm antes das teorias e antecedem a Psicologia, as suas bases teóricas, filosóficas e éticas.
A formação médica, psicológica e psiquiátrica têm uma visão geral destes campos, porém não é o espaço para o desenvolvimento pessoal de atitudes, posturas, técnicas e nem de recursos que permitam acompanhar de maneira efetiva o profissional da saúde na lida com o sofrimento humano. Isto requer um treinamento específicos. Existe uma grande diferença entre ser um psicólogo e ser um psicoterapeuta. O psicoterapeuta tem que estudar e se treinar por muitos anos. No Brasil este estudo é feito durante os últimos dois anos das Faculdade, incluindo uma formação teórica, seu treinamento técnico e uma experiência pessoal como cliente fazendo sua própria psicoterapia.
Para ser psicanalista, não é necessário ser médico e nem psicológo embora isto seja desejável, e então ele precisa basicamente de três coisas: a sua formação na Sociedade de Psicanálise, a sua psicoterapia pessoal para se curar e finalmente, a sua análise didática para aprender a trabalhar corretamente quando estiver atuando.
Normalmente, se o profissional não faz a sua análise pessoal ou a sua psicoterapia, ele não consegue enxergar no seu paciente os problemas semelhantes aos seus que são os chamados “pontos cegos”. Segundo a antiga sabedoria bíblica, “você precisa antes tirar o cisco dos seus próprios olhos para depois tirar o cisco dos olhos dos outros”.
Para ser psicoterapeuta, diferentemente da Psicanálise, normalmente não se exige que o profissional faça a sua própria terapia. Acredita-se que uma boa formação técnica e teória é o suficiente para que o profissional possa ajudar os outros. Defende-se que o profissional não precisa ser “perfeito” e nem “normal” para ser um bom terapeuta. Na prática, no entanto, notamos que o tratamento pessoal ajuda e facilita o trabalho no consultório.
Sabe-se quando o profissional não é bem formado quando ele se restringe a escutar sem dizer nada, quando se esconde atrás de um silêncio ingênuo que não uma “escuta ativa” e não cura. O silêncio vazio frequentemente atribuido à Psicanalise pode tornar o paciente um escravo da terapia,é um posicionamento simplista muito próximo do senso comum.
A psicoterapia não é exclusivamente para tratar problemas mentais, mas é uma forma de obtenção de autoconhecimento e atingir o desenvolvimento pessoal. Além do mais, é necessário um processo de supervisão após a sua formação, no qual é observada, corrigida e aprimorada a sua capacidade de intervenção terapêutica.
A psicoterapia é uma prática que não se limita aos pacientes infermos, mas também ao enriquecimento da vida de qualquer ser humano e ao desenvolvimento de potencialidades e qualidades pessoais. Seus métodos consistem em fazer intervenções diretas através da relação entre um professional médico, psicólogo ou psiquiátra com formação psicoterapêutica, com diversas finalidades, entre as quais podemos destacar:
- O alívio de sintomas psicossomáticos e emocionais
- Modificação de comportamentos disfuncionais
- Expressão emocional
- Reestruturação de patrões cognitivos
- Melhorar padrões de comunicação e interação
- A contenção em situações de crises
- Realização de objetivos e ativação de recursos adormecidos
- Elaboração de experiências infantis do passado
- A elaboração de complexos relacionados à mãe e ao pai
- Tornar consciente conteúdos do inconsciente
- Flexibilizar a compreensão e ampliar a personalidade
- Promover o autoconhecimento e a busca de si mesmo
- Promover a individuação, a independência e a autonomia
- Ativar recursos da pessoa humana: Auto-distanciamento, autotrascendência, liberdade, responsabilidade, vontade, sentido de vida, criatividade, intuição, valores, humor, capacidade de risiliência, etc.
- Aumentar o nível de consciência das pessoas
- Superar o vazio e a realizar do sentido da vida
- Melhorar o contato e aprofundar as relações humanas
- Contribuir para organização e a melhora dos sistemas familiares, entre outras coisas.
Uma das características da formação do psicoterapeuta, é que ela não é fruto apenas de conhecimentos teóricos e acadêmicos, mas é sobretudo prático e vivencial, implicando na realização de trabalho pessoal fazendo a sua própria terapia. A pessoa do psicoterapeuta é a sua principal ferramenta de trabalho, é quase tudo o que ele tem para fazer as suas intervenções clínicas, por isto, ele precisa estar bem e estar se sentindo pleno para que possa ajudar aqueles que buscam pela sua ajuda.
O treinamento em psicoterapia em geral não é feito na faculdade, mas em centros específicos de formação nas linhas, nas escolas e nas adordagens que o profissional escolhe. É realizado por psicoterapeutas experientes e autorizados no enfoque de sua preferência (por exemplo, quem quer ser psicanalista procura a uma escola de Psicanálise e um psicanalista experiente para fazer a sua terapia pessoal e aprender a trabalhar) e assim por diante, procurando alguém certificado que realizou o seu próprio treinamento que pode tomar anos de experiência para a construção da sua reputação e da sua respeitabilidade dentro da escola terapêutica que ele representa.
Entre os principais enfoques psicoterapêuticos neste momento histórico se encontram:
- A Análise Existencial e a Logoterapia de Viktor Frankl
- A Aanálise Existencial do Dr. Alfried Längle
- A Análisis Transacional do Dr. Eric Berne
- Arte-terapia e as terapias expressivas (vários autores)
- A Biodança do Dr. Rolando Toro
- A Bioenergética do Dr. Alexander Lowen
- As Constelações Familiares do Dr. Bert Hellinger
- A Dasein analise do Dr. Ludwig Binswanger & Medard Boss
- O Enfoque Centrado na Pessoa do Dr. Carl Rogers
- O EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing) da Dra. Francine Shapiro
- A Hipnoterapia Ericksoniana de Milton Erickson
- A Musicoterapia de(vários autores)
- A Programação Neurolingüística de Bandler e Grinder
- A Psicanálise Freudiana de Freud e seus discípulos
- A Psicanálise Interssubjetiva (vários autores)
- A Psicanálise Kleiniana de Melanie Klein
- A Psicanálise Lacaniana de Jacques Lacan
- O Psicodrama de Jacob Levy Moreno
- A Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung
- A Psicologia Individual Adleriana de Alfred Adler
- A Psicologia Social de Enrique Pichón Riviere
- As Psicologias Transpessoais (vários autores)
- As Psicoterapias Existenciais Fenomenológicas
- A Psicoterapia Experiencial de Eugene Gendlin
- A Psicoterapia Psicanalítica Breve (vários autores)
- A Terapia Centrada na Solução de Steve de Shazer
- A Terapia Comportamental Cognitiva de Aaron Beck
- As Terapias Construtivistas (vários autores)
- As Terapias Cognitivas de Terceira Generação
- A Terapia Breve Estratégica de Milton Erickson
- A Terapia dos Esquemas Pessoais do Dr. Jeffrey Young
- A Terapia de Redecisão de Robert e Mary Goulding
- A Terapia Gestalt de Fritz Perls
- A Terapia Narrativa de Michael White e David Epston
- A Terapia Racional Emotiva de Albert Ellis
- A Terapia Familiar Sistêmica (vários autores)
- A Terapia Zen Budista de David Brazier
- A caracterologia de Wilhem Reich
A estes enfoques teremos ainda que adicionar os diversos desdobramentos de cada escola, as suas ramificações e mudanças em outros países e instituições, as adaptações, assim como as propostas ecléticas que integram duas ou mais propostas e criam a partir daí, novas tendências e novos enfoques.
Nos últimos anos apareceram os modelos mais variados de coaching, mediação, abordagens voltadas para a justiça e a saúde, cada uma delas cada vez mais centradas na solução dos problemas, para a superação das enfermidades dos novos tempos e da evolução.