AMAR OUTRA PESSOA
“Sabe porque a gente se desilude?
Pois é! A gente se desilude porque se ilude”!
Peter Spelter
Que o amor é uma escolha todos sabemos. Hoje em dia, não existem tem-se a convicção de que as pessoas que vivem numa relação e que se apaixonaram por outras pessoas, não necessariamente estariam traindo, não estariam cometendo nenhum delito e já nem existe mais a figura do adultério.
Se isto acontece, não chega a ser um absurdo, mas a única coisa que é inadequada é a permanência nesta condição, não resolvendo o que precisa ser resolvido e continuar vivendo em duas realidades ao mesmo tempo. Quando este é o caso, é urgente resolver a situação para poupar o sofrimento das pessoas envolvidas (cônjuges, familiares especialmente os filhos, do novo “amor” e do envolvido).
Você poderia simplesmente dizer “eu não quero mais continuar nesta relação”, e não teria que se justificar em nada e por razão nenhuma e a melhor coisa a se fazer é dizer que você “não quer mais o relacionamento”.
Acontece que nem sempre fazemos isto. Muitas vezes por falsos pudores e devido às pressões de outras pessoas, então você persiste em algo desagradável e até abusivo, muitas vezes em respeito a pessoas que não estão em sua pele, que não sofrem o que você sofre e que, às vezes, embora sabendo do seu sofrimento, “não podem aceitar” a sua decisão. Ninguém aceita a separação de ninguém numa sociedade judaico-cristã. Nela, as pessoas estão obrigadas a viverem em relacionamentos abusivos e infernais porque os outros querem e não aprovam a sua separação.
Então vamos pensar um pouco sobre esta questão a partir do ponto de vista das terapias familiares e conjugais e da ecologia mental humanas.
O que fazer quando nos descobrimos apaixonados por uma pessoa fora da nossa relação ou de um casamento? Isto acontece com muitas pessoas conhecidas e até poderia ser com você. Em muitas ocasiões, a culpa, o medo, as chantagens dos nossos parceiros e familiares e as nossas inseguranças, nos impedem de darmos um passo transformador e terapêutico para as nossas vidas.
Alguns pensam que é mais fácil abandonar do que ser abandonado, mas esta é uma convicção equivocada segundo alguns colegas profissionais experientes até de outros países como a Dra. Anuka Aguirres, Gilberg B. Lazan e Cloé Madanes entre outros. Isto não é certo e nem verdadeiro. Sabemos que existem circunstâncias nas quais estas decisões se tornam quase que impossíveis e deixar uma relação e nos separarmos, parece algo perturbador e perigoso, mesmo após termos encontrado um novo amor e uma outra pessoa, mas você pode simplesmente achar mais leve e saudável uma vida solo, a vida é sua e você a decide.
Em alguns casos a culpa, a insegurança, o medo de perder a admiração dos filhos, parentes e etc., o sentimento de responsabilidade para com um velho parceiro de lutas, as nossas tantas dívidas emocionais, reais ou imaginárias, coisas que vão fechando o cerco e nos impedindo de resolvermos as nossas vidas e assim não podemos mover “uma palha” e nem darmos um pequeno passo rumo àquilo que nos parece melhor. Pode até não ser, mas ninguém saberá se não tentar, além do mais, você não deve ficar numa relação apenas “por conveniência”, mas única e exclusivamente por amor.
Pode ser que se separando você até viva mais, de forma mais saudável e melhor, e possa; ao contrário do que pensa, estar com seus familiares por muito mais tempo durante a nossa curta existência. Sabemos que há um mundo de doenças que resultam de relações opressivas e doentes; miomas, obesidade, suicídios, neuroses, diabetes, feminicídios, falta de razões para se viver, coisas que nos levam, às vezes, à morte prematura ou à uma vida vazia de significados.
Assim, quem amasse verdadeiramente apoiaria real e concretamente e inclusive o seu cônjuge, não impediria você de tomar o seu destino em suas próprias mãos, afinal, também ele sairá na vantagem saindo de uma relação adoecida e terá outras oportunidades pela vida. Por outro lado, quem não apoiasse as suas novas buscas, talvez não confiasse em você e poderia até não ser um bom amigo, e assim, de que valeria sua opinião?
A possibilidade de se sair de um relacionamento, às vezes se torna uma decisão difícil e não conseguimos encontrar um “como” sair. Podemos estar conscientes de que já não existe mais nada, mesmo assim, começamos a avaliar uma série de fatores que nos impedem de decidir e rompermos histórias que há muito tempo não dão mais certo.
Estas situações não são saudáveis e se não tomamos consciência e nem medidas adequadas, é possível que estas paralisias tragam intermináveis dificuldades, coisas que afetam todas as vidas de todos os envolvidos, e que nos impedem de concluí-las de forma saudável.
Precisamos entender que o amor é uma escolha, que amar é “querer bem” a uma pessoa, e se escolhemos uma outra pessoa e não resolvemos as nossas vidas, prejudicamos pelo menos três; o cônjuge, a nova pessoa e especialmente nós mesmos. Uma fica esperando e sofre, a outra não tem mais você e nem o seu amor e também sofre, e você não consegue dar um novo passo e seguir na vida.
Eis alguns elementos que nos impedem a separação:
⦁ A culpa é a principal dificuldade que impede às pessoas de se separarem, mesmo estando envolvidos com outra pessoa. Este sentimento nasce por não querermos prejudicar um companheiro de muitos anos e que tantas coisas importantes trouxeram para as nossas vidas.
⦁ As inseguranças e as dúvidas nos paralisam e não conseguimos nos decidirmos. O medo nos imobilizam e ficamos inseguros quanto ao futuro. Não sabemos se a nova relação na qual apostamos é real ou se estamos iludidos. Será que conhecemos realmente a pessoa? Não seria uma ilusão? Vamos nos decepcionar? E se der errado como voltar a trás e nos refazermos depois?
⦁ Pressão de filhos, familiares e amigos, as eventuais chantagens e ameaças de parceiros que não aceitam e querem impedir as separações, o medo da violência diante dos crescentes casos de feminicídios e as ameaças até de suicídios de ex-cônjuges.
⦁ Por lealdades invisíveis e inconscientes, os nossos filhos “não podem”, “não conseguem”, “não querem” e “estão impedidos” de aceitarem as separações dos seus pais, porque somente os percebem juntos. Eles somente absorvem as separações quando estão maduros, diante de tragédias, da morte ou após anos de terapia.
⦁ Há uma tendência a responsabilizar um terceiro pela separação ou pela ⦁ solução dos problemas do casal. Quem se apaixona poderia se apaixonar, não porque amar, mas para ter uma desculpa para ser separar, usando a pressão da pessoa amada para que abandone a relação atual e saia, terceirizando a responsabilidade pelo fim.
Não resolver o que precisa ser resolvido na hora certa é também ruim porque, não assumindo, pioram as consequências e aumentam os riscos, agravam as traições, as doenças e os males decorrentes da deslealdade de uma vida dupla. A traição é essencialmente esquizofrenógena. Em se fechando de vez para a nova relação que então se acabaria, prende-se agora a um vínculo com quem não se ama e isto frequentemente adoece a família.
Muitas vezes começam a ocorrer reações inconscientes e passamos a sofrer por muitas outras razões, com maior intensidade e por mais tempo. Os sintomas aparecem. Somatizações. Existem adoecimentos quando se fica, e consequências imprevisíveis quando se vai, mas lembrem-se de que as pessoas mais próximas, “filhos, pais e parentes” em geral são os que menos darão apoio, não por maldades ou incompreensões, mas por lealdades inconscientes, eles estarão “impedidos”. Seria cruel pedir apoio deles. Portanto, não peça a compreensão deles porquanto estarão proibidos de apoiarem quem quer que seja, tanto o que fica como o que vai, e você precisa simplesmente agir.
Pode ser que “ninguém fique do seu lado” por um bom tempo, mas após de dois ou três anos as coisas se equilibram. Isto não significa que se você ficar, todos os problemas estarão resolvidos, ao contrário, é preciso pagar para ver, ou seja, isto não significa que você não deva se separar especialmente se a relação amorosa acabou.
Você deve estar se perguntando, mas “e as terapias conjugais? Em mais de quarenta anos de experiência eu aprendi que, quando existe amor e ninguém está traindo, pode ser que uma boa terapia individual ou conjugal ajude. Mas aprendi também que, “graças a Deus” as relações não são eternas. Ninguém vive junto “até que a morte os separem”, especialmente quando não existe amor. Mesmo porque, quando existe amor “nem a morte nos separam”.
O sentido do amor e da separação
Quando não existe mais amor, acabam-se os valores, a relação perde o sentido e as principais consequências são obvias e típicas daquelas relações onde já não existe mais amor e o que acontece onde não existe amor?
Um primeiro lugar, uma sutil e provável violência psicológica, uma relação tensa ou silenciosamente hostil e invisível nos adoecem. É impossível ser saudável num relacionamento onde não exista amor. Em geral não nos damos conta da hostilidade e do vazio. Alguns culpam seu cônjuge até pela existência da pessoa amada ou pela falta dela. O que o meu amor estaria fazendo agora? Chora-se em silêncio. Parece que tudo o que outro diz ou não diz, faz ou não faz é ruim e até os presentes podem nos ofender. Aumenta a intolerância e as críticas, e tudo o que se faça parece ser digno apenas e tão somente de repulsa.
Em segundo lugar, a mentira e o engano estarão presentes e com eles a culpa, a indecisão e o medo que também podem agravar o espiral das traições e das mentiras. Vivem junto por obrigação. A autopiedade os levam a vícios e à uma variedade de doenças emocionais.
Quando alguém mente ao “seu cônjuge” ou para ao eventual amor que está nascendo, tudo estará começando errado. As culpas serão inevitáveis. Isto pode ser feito para não se sair do casamento, mas também para perder a pessoa amada. Ambas as situações trazem culpas, adoecem e não deixa de ser uma maneira pouco madura de procrastinação para o adiamento das soluções mais inevitáveis.
Em terceiro lugar estão as estratégias passivo-agressivas, atitudes obscuras como o distanciamento emocional para se lançar acusações contra o outro. Manifestam-se as doenças, porém nada é expresso de maneira clara para o ocultamento dos reais conflitos.
Algumas destas autossabotagens são as pistas comprometedoras que consistem em se fazer o possível para “ser pego”, deixando sinais sobre a existência do novo relacionamento ou da traição, de que existe uma nova pessoa, para que assim a relação seja terminada dando-se o troco e ferindo os cônjuges. O casal se machuca mutuamente para facilita o distanciamento entre eles e a aproximação sem culpa em relação ao novo amor.
Os efeitos da imaturidade
Na medida em que não se põe um fim a uma relação problemática no momento certo, a situação se fará mais dolorosa para todos os envolvidos (cônjuges, filhos, netos, contra si mesmo e a pessoa de quem se gosta), cujo amor que pode não suportar ser a segunda opção e perdido no abandono provavelmente desistirá, mas a grande dor ficará para que sabe que precisa ir embora e não vai.
O relacionamento atual, com certeza sentirá a ruptura que flutua num ambiente de desconfiança e o ciúme pode aumentar. Porém, se não são colocadas as cartas na mesa, crescerão as angústias, as dúvidas, as desconfianças e o mal-estar próprio de uma relação sem amor.
Nestas condições, o cônjuge acabará não sabendo em que terreno está pisando e não terá elementos para tomar suas decisões. Isto fará com que uma silenciosa dor se instale, por estarem vivendo ilusões desnecessárias e expectativas inúteis. Na verdade, a falta de uma solução faz muito mais estrago do que o adiamento e os jogos que são jogados para se postergar, enganar e não resolver os problemas, que são piores do que uma expressão definitiva sobre o que estaria acontecendo.
Não é necessária a revelação de que existe uma outra pessoa ou que há uma “traição”, mas simplesmente esclarecer que não você deseja mais continuar no relacionamento, podendo assim serem evitadas agressões e pode até dar a impressão de que você enlouqueceu, mas é melhor assim.
Quanto ao terceiro envolvido, o “novo amor”, este também será afetado. A relação pode não dar certo devido ao fato dele se lembrar da demora para se resolver a situação e não se sentirá suficientemente amado ou não, ou, de repente tudo se resolve e dá certo. A pessoa não sabe se deve esperar que o outro resolva a situação, ou simplesmente segue adiante com a vida. Também ele pode experimentar frustrações por não ter iniciado uma outra relação mais realista e satisfatória.
Por tudo isto, não sair de um relacionamento doente na hora certa, pode ser uma amostra de insegurança, de egoísmo, de falta de compaixão com os outros e autoestima. Com isto tem-se a ilusão de estar evitando um mal, mas o faz às custas do sofrimento dos demais.
Por fim, pode-se ainda sair avariado de uma situação confusa, onde os medos, as indecisões, a falta de autoestima, de amor próprio e compromisso da pessoa consigo mesma, coisas que, cedo ou tarde mostrarão as suas consequências.