Notice: Function _load_textdomain_just_in_time was called incorrectly. Translation loading for the wp-pagenavi domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home/u986051093/domains/sitedopsicologo.com.br/public_html/wp-includes/functions.php on line 6114

Notice: Function _load_textdomain_just_in_time was called incorrectly. Translation loading for the updraftplus domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home/u986051093/domains/sitedopsicologo.com.br/public_html/wp-includes/functions.php on line 6114
O ciúme póstumo

Blogoterapia

É um blog sobre psicoterapia, filosofia, arte e o sentido da vida para passar um conteúdo dinâmico e diário, para troca de conteúdos que possa ser terapêutico.

O ciúme póstumo

Os clientes querem compreender o ciúme, especialmente o ciúme póstumo, e a reflexão é de que os amantes constroem juntos as traições e no caso dos ciúmes póstumos, o objeto da traição sequer existe.

Para quem ama é difícil imaginar a pessoa amada com outra pessoa, suas vivencias passadas, as trocas e as experiências com alguém que agora está com ela. É cruel imaginar esta pessoa fazendo parte de outras histórias no passado ou no presente.

“Quando penso que a sua boca beijou outra boca, a insegurança toma conta de mim. Pior ainda é imaginar a história da sua intimidade.”

Sem dúvida alguma a traição é cruel quando é real e atual, mas muitas vezes vivemos reanimando cadáveres e ressuscitando os mortos, sofrendo por coisas que não podem mais ser solucionadas.

Muitos confundem ciúmes com uma espécie de “inveja” de tudo o que a pessoa amada viveu com alguém do passado, as experiências que deram certo, a lua de mel, uma viagem, a construção de um imóvel, a gravidez e o parto de um filho.

O ex é na verdade importante porque foi ele (ou ela) quem preparou ambos para a relação que agora vivem e para a vida atual.

Naquele tempo talvez dissessem: “Eu nasci para você e você nasceu para mim!” Que bobagem é esta agora de achar que alguém nasceu para você. Ninguém nasce para ninguém! Todo mundo nasce para si mesmo! Mas, a lógica do amor ninguém pensa assim.

Roland Barthes, um filósofo francês em seu livro “Fragmentos de um Discurso Amoroso”, afirma que: “Como ciumento eu sofro quatro vezes: porque sou ciumento, porque me reprovo em sê-lo, porque temo que meu ciúme magoe o outro e porque me deixo dominar por uma banalidade. Sofro por ser excluído, por ser agressivo e por ser meio louco”.

Mais recentemente, eu mesmo em minha experiência clínica descobri que há mais dois sofrimentos cruéis; o primeiro é porque o ciúme faz propaganda do “inimigo” e o segundo, porque os ciúmes exagerados parecem disfarçar “homossexualidades latentes”, pois o ciumento é alguém que acredita que existe no mundo uma pessoa do mesmo sexo, que é tão incrível, que a pessoa amada não poderia passar pela vida sem conhecê-la e quem pensa assim tende a ser um homossexual!

Quando comentei sobre isto com a professora Cloé Madanes, uma das maiores terapeutas de casais do mundo; demos doas risadas porque nós mesmos estaríamos no grupo de ciumentos e comecei a pensar sobre o tema.

Segundo Barthes a dor infinita do ciumento é comparável, talvez, somente à inveja e é comum por ser um dos sentimentos mais presentes na alma neurótica dos amantes.

De fato ele tem inveja da felicidade vivida pelo outro com os outros e se pergunta; “Afinal porque isto não aconteceu entre nós? Porque esta viagem não foi entre nós? Porque este filho não é nosso?” E sofre realmente com estas reflexões absurdas.

“O amor da sua vida” é seu amor enquanto a relação durar, e pode ser infinito enquanto durar, mas não é definitivo, pois toda relação terá um fim e o “fim” está presente em tudo o que um dia teve um “começo”.

Todo relacionamento é finito. O mito de que “nascemos um para o outro” é uma realidade que dura enquanto “amamos” um ao outro e estamos juntos. Depois tudo acaba. Assim, nascemos para o outro por algum tempo, enquanto isto fizer sentido.

E como disse o poeta Vinicius de Morais no soneto da Fidelidade:

 

De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

 

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento

 

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):

 

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

 

O CIÚME É O DESEJO DE PERDA

 

Uma história poderá ser vivida por um tempo e mesmo acabando ser intensa por toda a vida. Uma história de amor não deixa de ser eterna enquanto memória e em seus efeitos por ter sido finita no tempo.

O cimento é aquele que deseja ir embora, é o inseguro, o fraco, o doente. As emoções do cimento são tóxicas e prejudiciais à continuidade do amor.

Pode-se dizer que o ciúme reflete o “medo de perder o que se tem”. Na verdade, embora os amantes se escolham; ninguém é dono de ninguém e possuir alguém seria um infeliz “sequestro amoroso”.

Tenho explicado que aqueles que se amam são “companheiros de viagem”. Almas que se procuram por afinidades ocultas e facilitam a vida daqueles, que, por alguma razão se amam e se ajudam neste mundo.

Por outro lado, é a liberdade e a transitoriedade que fazem a beleza do amor dos que se escolhem parecem dizer; “Eu te escolho por mais um dia!”

O ciumento cuida do outro não por causa do outro, mas por causa de si mesmo. O foco do seu interesse é controlar e matar a liberdade. O amor só cresce na liberdade e quem é livre honra esse voto de confiança.

Onde existe amor existe escolha. Não há necessidade de se montar guarda como se o outro fosse perigoso e ao menor descuido pudesse fugir com outro. Isto é mais escravidão do que amor. Vigiar desrespeita o ser cativo e vigiado que é um prisioneiro e não chega a ser amado.

Por outro lado, se alguém é fiel sobvigilância, ela pessoa de fato não é fiel. Ela vive no cativeiro da desconfiança de um amor que faz mal, que oprime e é restringido pelo outro.

O ciúme decorre de uma espécie de “delírio da posse”, do medo da perda que se plasma como desejo de controlar e ter. É um sequestro onde o que se aprisiona é um fantasma, algo que quanto mais se prende mais ele foge.

Há também uma dimensão sobre a qual a psicanálise chama a atenção que é o fato do ciúme ser uma espécie de medo que se confunde com desejo e são sinônimos.

Medo é desejo (medo = desejo), aquele que prende quer destruir e perder o outro. O medo e o desejo da perda estão contidos no ciúme, e são na pior das hipóteses faces da mesma coisa.

Quem tem medo de ser traído, “espera” que a traição aconteça, e quem “espera” que algo possa acontecer anseia por isto e tem ocultas “esperanças” de perda, e cuidando demais se descuida e espanta de si quem deseja e “ama”.

O ciúme, que pode ainda funcionar como um sinal de alerta de que a relação acabou e alguém deseja ir. Pode ser uma proteção da rotina do casal, que em exagero de causa, pode asfixiar e levar à separação.

Existe uma variedade de ciúmes, no entanto, a essência deles está associada à autoestima baixa. O ciúme não tem nada a ver com a traição necessariamente, pois muitos dos quais se têm ciúmes nunca traíram e outros sequer existiram.

Por outro lado, os grandes infiéis, às vezes traíram com a conivência dos parceiros. Eles pareciam estimulá-la com a sua vigilância e precisavam tolerar a traição para justificar sua autopiedade e autopunição culposa.

Quanto menor a autoestima, maiores são as chances de uma pessoa ser ciumenta.

Em geral, quem é doentemente ciumento é controlador, monitora a vida do outro vasculha telefones, e-mails, redes sociais e vive desesperadamente tentando comprovar alguma coisa. Adivinha por quê? Porque isto é o que ele busca e deseja encontrar.

Eles sofrem e fazem sofrer, normalmente rejeitam as psicoterapias, porque sonham com a possibilidade de serem traídos.

Se o traidor percebe ele pode trair para agradar e presentear o outro dando o que ele deseja tão ansiosamente receber.

Então o traído parece sofrer, mas perdoa rapidamente, não por ser bonzinho, mas para se tornar poderoso, resignado e melhor do que o seu amado traidor.

Finalmente, é muito interessante deixar claro que a traição frequentemente é um projeto dos dois. Trata-se de um acordo secreto e onde não existe vítima, mas é resultado de uma busca conjunta dos amantes, especialmente quando isto acontece e eles se perdoam, mas também porque a traição às vezes é uma oportunidade para o fim de uma relação que não existia mais.

Tags:
José Carlos Vitor Gomes Psic.

José Carlos Vitor Gomes Psic.

Atua como psicoterapeuta, psicoterapeuta familiar e de casal desde 1979. Fez cursos de especialização nos Estados Unidos, Argentina, Colômbia, Itália e no Brasil. Foi um dos pioneiros na divulgação da psicoterapia familiar no Brasil. Foi organizador de 53 eventos com celebridades nesta área com a participação de mais de vinte mil profissionais brasileiros.

sitedopsicologo.com.br / (19) 99191-5685