O Preço de não se tornar
Nesta era em que o sentido da vida parece estar em levar vantagens em tudo, em “alcançar o prazer” e “obter resultados”, eu começaria vendo as coisas sobre outro viés e focaria no sentido destas tendências, até para exercitar um pouco a mente e estimular a reflexão, vendo as coisas sobre outros ângulos e sob novas perspectivas.
Nesses tempos onde tudo é colocado em planilhas para se calcular as vantagens, o lucro e os custos, eu tenho me perguntado sobre inverso das coisas, por exemplo, no quanto custa ser doente, ser feio e se vestir mal, em qual é o preço que se paga para se passar uma má impressão e manter uma apresentação pessoal ruim.
O quanto custa vestir-se mal? Qual é o preço que se paga para manter uma apresentação pessoal feia e duvidosa? Quando uso roupas que não combinam, quando me apresento de forma descuidada e sem requintes?
O quanto custa não fazer aquele curso, economizar perfumes, não fazer uma caminhada diária e não tomar aquele remédio? Percebo que o que se paga para não se obter aquele certificado ou aquela certificação profissional, equivale ao que deixo de receber por não contar com eles.
O quanto pago para não obter o que eu precisaria ou gostaria de ter, o quanto invisto para manter o meu carro velho e sem manutenção que logo começará a dar defeitos e me deixará na estrada.
O sentido das coisas está no que elas nos proporcionam, assim, quando compro um carro novo, em geral pouco interessa o carro em si mesmo, pois o que eu preciso é o que ele me proporciona; que no caso, é “o transporte”. Se compro um relógio novo, pouco importa se ele é de ouro ou de plástico, pois o que está em relevo é poder ver as horas e administrar meu tempo.
Mais do que isto, fico pensando nos casais quando se separam, nas oportunidades que perderam de viverem juntos e no que significa viver em companhia, no quanto custa a ausência do outro, nas coisas abortadas e que não serão vividas. Ou talvez no contrário, no quanto custa a vida conjunta, quando o outro se transforma e deixa ser o que era antes, no que poderiam ter vivido se continuassem a ser aquilo que eram?
Corremos tanto atrás de conquistas fúteis sem sabermos qual seria o sabor de não as ter, querendo ter o controle e sabermos para onde vamos, mas se soubéssemos e tivéssemos menos certezas, iriamos mais devagar para apreciarmos o sabor das coisas, a delícia da demora quando desfrutamos de algo delicioso, porém distante, com o gosto de estarmos longe dos nossos objetivos e de podermos apreciar o lento sabor da aproximação.
Por um instante me dei conta de que preciso “não ter” o que eu tanto desejo, para o seguir desejando… sonhando e buscando o que eu aprecio, e que por estar distante dá sentido à minha vida.