O sentido do amor
Quando meu filho nasceu, ele deu a luz de mim como pai e foi assim que eu, como pai, eu nasci para mundo. Com a sua chegada, ficou mais claro o sentido de ser pai, pois se ele não existisse, ele não saberia da existência do Mundo, da beleza das estrelas, das flores, dos mares e das galáxias.
Se ele não existisse, o mundo para ele não existiria, não saberia da beleza do rio que flui entre os montes, das cachoeiras e da suave dança das flores e as mãos sagradas dos ventos.
Um dia destes eu via suas fotos, olhando o céu estrelado das noites do Atacama, e logo depois, noutra imagem, ele estava sentado nas pedras e olhava encantado os vales da Chapada da Diamantina, enquanto o meu outro filho, lia sobre arte e filosofia, brincava com ideias e crianças.
Tenho passado horas pensando no sentido da existência, no quanto ela se funda no caráter de algo único e irrepetível no mundo. Cada pessoa é única e tem o seu jeito exclusivo de ser.
Você nasceu no corpo certo para ser o que devia ser. Nada mais e nada menos. Não existiam razões para descontento, pois cada um é plantado onde devia nascer, tem o lar que precisava, vive com quem necessita viver, com o corpo que merece e no lugar certo segundo suas necessidades.
Nada está em lugar errado se o nosso lugar é fruto de uma livre escolha. Assim, cada um está onde se colocou, e segue na correnteza perene da justiça que zela por tudo, faz com que tudo seja para o bem, sendo o melhor que poderia ter acontecido a cada um de nós.
Até as carências nos foram dadas sob medida segundo a alfaiataria da vida. Os recursos financeiros são exatos para as nossas necessidades; nem mais e nem menos, tudo calculado segundo as mais terrenais tarefas.
Nada é consequência de nenhum destino fatal e de nenhum determinismo. Tudo que vivemos e temos, é fruto de escolhas invisíveis esquecidas no tempo, feita sob o olhar misericordioso de algo maior e de um Suprassentido.
E como disse o sábio, também o nosso trabalho resulta de uma escolha espontânea e livre para a realização das nossas missões. Os nossos familiares e amigos, são aqueles que as nossas almas buscaram segundo as mais sutis afinidades.
O nosso destino sempre esteve em nossas mãos e sob o nosso controle. As nossas escolhas e necessidades sempre foram justas e foram feitas por nós mesmos.
Também o meio ambiente e tudo o que nos circunda foram escolhidos, e até os nossos carrascos foram capturados e selecionados na intensidade certa, ajustados para nos punirem como precisamos, na exata dimensão das nossas mais inconfessáveis culpas.
Não existem vítimas!
O sentimento de pena pode emocionar e até nos arrancar lágrimas, porém, às vezes, as vítimas são piores do que os seus algozes e um assassinado pode ser pior que o seu assassino.
As nossas reflexões, vontades, atos e iniciativas, acontecem para facilitar a vida e melhorar as nossas jornadas.
O “outro” é o propósito das nossas vidas. Estamos aqui apenas e tão somente para as relações e “para a convivência” com criaturas que amamos ou não, para tê-las como agentes da nossa felicidade ou das nossas piores dificuldades.
O ser humano é um ser que vive para as relações. Estamos aqui “para” os outros e são eles que dão sentido para as nossas vidas, com quais buscamos expiar e reparar as nossas dívidas.
Ninguém tem obrigação de ser “como” ninguém, mas aqui vivemos “para” o mundo. Cada um é certo sendo o que “é”, e isto nos ajuda a compreender o sentido do perdão.
A comunidade é o campo onde ocorrem as vivências humanas, na comunidade familiar e a dois, em cujas relações ninguém jamais esteve errado.
O amor é o sentido da vida, algo mais do que sensual e erótico. É o campo onde se realizam os valores mais profundamente humanos, e assim, o amor e o sexo é a porta de entrada para o mundo.
O amor é a vivência onde, pouco a pouco entramos na vida uns dos outros como criaturas dignas de toda compaixão, para quem não devemos fazer outra coisa se senão o bem e se prejudicamos alguém, basta nos colocarmos em seu lugar e nos perguntarmos:
– E se fosse comigo? Como seria estar no lugar de alguém atingido, talvez infeliz por danos que lhes proporcionamos?
A orientação empática para “amar ao próximo como a nos mesmo” orienta a nos perguntarmos sempre:
– E se alguém fizesse a mim o mal que eu, às vezes, inadvertidamente lhe fiz?
– Como seria estar no lugar do outro?
Se pudéssemos sentir o que o outro sente, só proporcionaríamos boas coisas e não faríamos nada senão o bem, e isto significa; “amar os outros como a nós mesmos”.
Além do caminho da realização onde nascer, viver e morrer é algo real, há um caminho que quase sempre é um milagre, onde tudo que o homem realiza, em geral é feito com as suas próprias mãos e cai do céu feito uma benção.
Os que amam não precisam fazer nada por isto, seja o que for e nem mesmo ter mérito algum, pois amar e ser amado não é questão de merecimento e todas as pessoas devem ser respeitadas.
Meu filho olhava de longe o horizonte, os vales e os montes, o céu estrelado do Deserto Atacama, as borboletas e pôr do sol, o rio caudaloso que fluía, as andorinhas no céu, neste mundo onde até os insetos são nossos irmãos. Amar é respeitar.
Naquele momento eu tinha consciência de que os pais são serviçais de Deus para a criação. Se uma pessoa não existisse como consciência encarnada, o planeta e as galáxias para ela não existiriam.
Então me dei conta de que ao ser pai de uma criança como consciência viva, eu lhe dava de presente não apenas a vida, os seus olhos e pensamentos, mas o Universo que tem diante dos seus olhos, as galáxias, o mar, o sabor dos sorvetes, a tarde e o ar perfumado pelas damas da noite.
Se tivesse cometido um aborto, eu teria privado essa criatura do projeto de Deus, de sentir o sabor dos sorvetes nas tardes de calor, das maravilhas que só ela poderia ver, as estrelas cadentes, o sabor do mel das frutas que escorre das mãos, pingando e se perdendo entre os dedos.
Deus meu! Perdoe-nos por todos os que se perderam no caminho, e não puderam estar – aí no mundo apesar de todas as mazelas. Eu tenho no coração um lugar sagrado para cada um dos pequenos seres que se extraviaram da vida!
Quando a gente ama, o ser amado é capturado como único no mundo, e no seu “ser-assim” e não de outro modo como dizia um filósofo, está aí para ser o que ele já “é”, no acolhimento de um outro eu.
Um ser que nasce faz toda diferença. Ele pode ser uma celebridade, alguém que estende as mãos por moedas ou por um resto de comida, e poderia talvez inventar algo e amenizar a dor da humanidade.
O ser amado não tem culpa por ser amado, mas amando se escolhem entre todas as criaturas. Sabem que cada um é único, que não há ninguém igual e que cada um é um presente de Deus para o outro.
Talvez seja mais do que somente uma graça, mas uma espécie de feitiço ou de encantamento, pois quem ama sabe que o amor enfeitiça o mundo e nos mergulham numa nova dimensão de valor e de esperança.
O amor dá àquele a quem ama a maior altura possível, a empatia que abre o espírito para a plenitude no encontro. É assim que, aquele que ama, ao se entregar experimenta conversões e mudanças que nos aproximam de Deus.
O cosmos inteiro se torna melhor, mais vasto e mais profundo em tudo que podemos imaginar, fazendo resplandecer a luz dos valores que somente aos namorados é permitido sentir, pois, afinal, o amor não é cego, ao contrário, ele torna vidente os que amam e amplia a visão dos que veem.
Por fim, ao lado da graça e do feitiço do amor surge num último milagre!
É precisamente através do amor que, passando pelo biológico se consuma de um modo inimaginável. Uma nova pessoa mergulha na vida cheia de mistérios, ela é desconhecida, intangível e única no mundo, e um filho é tudo isto!